sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Treino e aperfeiçoamento do Guarda-Redes,MATS OLSON

CLINIC TREINADORES DE ANDEBOL

Mats Olsson começou a ter contacto com o Andebol aos 11 anos.
Até aos 14 praticou Andebol, Futebol e Hóquei no Gelo. Aos 14 anos
abandonou o Hóquei e aos 16 elegeu o Andebol como o seu desporto preferido.
Diz ainda Mats Olsson, em relação à sua própria experiência, que aos 19
anos chegou à Selecção "A" sueca, mas apenas aos 26 anos ele próprio se
considerou um bom guarda-redes, um guarda-redes de selecção.
Mats Olsson abandonou a competição aos 37 anos, não por motivos físicos,
mas, diz ele,por motivos psíquicos, uma vez que a sua forma de jogar e de
encarar os jogos o obrigava a uma concentração constante que, com aquela
idade já sentia dificuldade em manter.

Mats Olsson deixou-nos algumas ideias para a formação e aperfeiçoamento do
tabalho do guarda-redes de Andebol, deixando claro que estas são as suas
ideias, fruto da sua experiência, como jogador e como treinador. Além de
director desportivo do Caja Cantábria, clube da I Divisão espanhola, o
ex.campeão muldial e europeu trabalha com guarda-redes jovens da Suécia e
assinou agora um contrato para trabalhar as guarda-redes da Noruega para
os próximos Jogos Olímpicos.

Esta acção de formação constou de duas sessões teóricas, uma dedicada à
formação e uma outra em que se falou da diferença entre um guarda-redes
normal e um guarda-redes sensacional.
Realizaram-se ainda duas sessões práticas que foram levadas a cabo por
jogadores da equipa do Boavista.

Ideia base: os Guarda-redes PENSAM!

Está completamente ultrapassada a ideia de que só vai para a baliza quem
não tem jeito para jogar em mais lado nenhum ou quem não percebe nada de
Andebol.

Por outro lado temos que ter consciência de que não podemos querer "fazer"
um guarda-redes num ano ou em dois. A formação de um guarda-redes deve ser
feita, no mínimo, em 7 anos.

Mats Olsson divide o trabalho com guarda-redes em várias etapas, neste caso
etárias. No entanto as idades referidas são referências, de evolução física
e psíquica e não propriamente idades de BI.

6 - 10 anos: Estado de Orientação

- não à especialização de guarda-redes
- conhecer o Andebol
- saber manejar a bola
- conhecer o próprio corpo
- coordenação
- trabalho de equipa (desporto colectivo)

Mats Olsson considera que a prática de vários desportos e em diversas
posições (no caso dos desportos colectivos) deve ser incentivada nos
mais jovens por forma a que assim possam conhecer melhor o seu corpo,
dando-lhe diferentes actividades e trabalhando por isso os seus vários
membros e respectivas componentes musculares e articulares.
Olsson diz que é importante que as crianças percebam que têm dois braços
e duas pernas, e que por ex. os gestos dos membros esquerdos não são
iguais aos dos direitos; no caso dos guarda-redes isso é tanto mais
importante pelo facto de terem de defender com ambos os lados do corpo
e não apenascom o seu lado forte.
Aponta, como exemplo desta necessidade, o facto de as raparigas, por quase
não jogarem futebol, terem pouco domínio das pernas, o que obriga depois a
que, na sua formação como guarda-redes, necessitem de um trabalho
suplementar para suprir essa carência.
É ainda fundamental que as crianças aprendam a manejar a bola, pois é com
ela que jogam. O futuro guarda-redes terá que dominar a bola, terá que a
jogar com os seus colegas. O trabalho com bola é importantíssimo.
Outra coisa que tem que ser trabalhada e incentivada é o esforço conjunto,
o interiorizar do trabalho colectivo.


10 - 12 anos: Os Princípios de Guarda-redes

- familializar-se com a baliza
- os princípios de ser guarda-redes
- deixar "o medo" da bola
- conseguir o seu espaço na equipa
- continuar o trabalho com bola
Neste escalão deve deixar-se que todos os jogadores passem pela baliza,
tomando contacto com o que é "ser guarda-redes".
Não deve ser o treinador a dizer "tu vais para a baliza". A escolha
posterior do treinador será feita em função da atitude que os miúdos
tomarem nesse contacto real com a baliza. E essa atitude, quando positiva,
será a de terem "ganas" de não deixar entrar a bola seja porque meios for.


O estilo não interessa, o que interessa é que a bola não entre. Um
guarda-redes que não se importa de sofrer golos nunca será guarda-redes.
O trabalho com bola dever continuar a ser aperfeiçoado e por vezes deve
usar-se bolas mais moles para que os guarda-redes percam o medo que um
impacto forte com a bola pode provocar nos mais novos.
Sempre que possível dever trabalhar-se com balizas mais pequenas para dar
segurança aos jovens no treino que estão a desenvolver.


12 - 15 anos: Formação do Guarda-redes

- especialização de guarda-redes
- início da formação física
- conhecer as técnicas de guarda-redes

É nesta fase da formação que surge a especialização de funções. É agora que
o jovem deve decidir, com o seu treinador, se quer ser guarda-redes.
É também agora que começa a ser necessário algum trabalho físico, usando o
próprio corpo para trabalhar e não pesos. O trabalho físico é a base de um
bom guarda-redes.
Quanto às técnicas de guarda-redes, Mats Olsson considera que todos devem
ter uma formação básica, com o domínio de gestos fundamentais, para depois,
em função das características morfológicas de cada guarda-redes ser
escolhida a técnica específica mais adequada.

No final deste ciclo surge muitas vezes a pergunta chave e a grande
dificuldade do treinador: Qual a técnica mais adequada para o guarda-redes
que tenho?

15 - 19 anos: Evolução Para o Futuro

- começar a exigir
- trabalho conjunto com a defesa (pela 1ª vez)
- formação física
- formação psíquica
- eleger a ténica final

A este nível a exigência não tem a ver com o facto de se chegar, por
exemplo, à 1ª equipa do clube, embora isso seja possível (sobretudo aos
18/19 anos) se o guarda-redes trabalhou bem e cumpriu as várias fase de que
já falamos, sobretudo as físicas e as da técnica de base. A exigência
reflecte-se sobretudo na ATITUDE do guarda-redes face ao seu desempenho.


Um guarda-redes "tem" que ficar "amuado" quando sofre golos. Se para ele
(guarda-redes) é igual defender ou não, então nunca será um bom guarda-redes.
Mats Olsson defende que só neste nível é que começa a existir trabalho
conjunto do guarda-redes com a sua defesa. Antes, o guarda-redes, se o quer
ser, tem que se habituar a defender o seu espaço - 6m2.
Aqui entra uma questão que é a dos guarda-redes que sofrem muitos golos
naquela que é a sua área de intervenção directa - o meio da baliza - e
defendem algumas bolas aos ângulos.
O guarda-redes só se pode sentir seguro se na sua área de intervenção,
aquela que abarca estando no meio da baliza, não for sistematicamente
batido. E esta última situação acontece sobretudo com guarda-redes de mais
baixa estatura que, na ânsia de defender bolas nos ângulos, saem muito
rapidamente da zona em que deveriam aguentar a posição esperando o remate.
Se nos lembramos que por jogo entram nas "gavetas" inferiores ou
superiores, meia dúzia de bolas, então temos que travar é os remates que
são mais dirigidos para o interior da baliza. Daí a necessidade de nas
camadas jovens trabalhar com balizas mais pequenas, para dar confiança ao
guarda-redes.



Esse espaço interior irá sendo alargado, em termos de treino, conforme o
guarda-redes for aumentado a sua eficácia. O que o guarda-redes tem que
interiorizar é que as bolas que entram nos ângulos são golos na mesma, mas
não são esses que ele tem "obrigação" de defender.
O trabalho físico neste escalão tem que ser aumentado comparativamente com
o anterior, mas com cuidado sobretudo na fase inicial do ciclo. Deve
começar-se a trabalhar com pesos, e com saltos e multi-saltos.
Quanto à formação psíquica, o ex-campeão do mundo tem uma opinião curiosa e
deu alguns exemplos que nos ajudam a compreender a sua tese. É sabido que
nos desportos colectivos há uma hierarquia no balneário.
Há, além do capitão de equipa, dois ou três elementos que gerem o
balneário, que lhe dão força, que se impôem aos colegas.


Olsson defende que o guarda-redes, que como já disse atrás, PENSA, tem que
integrar o topo dessa hierarquia. Um guarda-redes sem peso no balneário da
sua equipa dificilmente será um bom guarda-redes. O guarda-redes usa a
cabeça, sabe ler o jogo, os colegas têm que o respeitar. E se o
guarda-redes é capitão, o que acontece cada vez mais, isso ajuda ainda
mais, quer o próprio guarda-redes quer a equipa.

Isso é visível nos aquecimentos. Mats Olsson diz que à excepção de Lavrov,
os guarda-redes russos não são respeitados (ou pelo menos não o eram há
alguns anos atrás), estão na base da pirâmide hierárquica da equipa, e diz
ele, viu muitos aquecimentos da equipa russa em que os guarda-redes não
tocavam numa bola porque os colegas não lhe ligavam nenhuma e não se
preocupavam com o seu aquecimento.Estavam antes preocupados com a colocação
e potência do seu próprio remate. Lavrov, com o seu valor, com a sua
inteligência, fez-se respeitar e mudou isso. O mesmo acontecia em Espanha.
Quando Mats Olsson chegou ao Teka ficou espantado com a falta de "peso"
dos guarda-redes nas equipas. O facto de ele e outros estrangeiros de valor
terem surgido no campeonato espanhol, ao mesmo tempo que surgiu um espanhol
de grande valor, Ricco, obrigou a uma mudança de mentalidades, quer nas
equipas quer no espectador.
O guarda-redes passa a ser tão importante como o melhor jogador de campo,
como o melhor marcador. Na Suécia, por ex. os verdadeiros heróis
desportivos dos mais novos são guarda-redes, seja de futebol de andebol ou
de hóquei no gelo. É grande a dificuldade em decidir quem vai ser o
guarda-redes da equipa pois há sempre muitos candidatos.

É também nesta fase da formação, que o jovem define o que quer ser como
guarda-redes, que caminho quer seguir no seu trabalho diário. É agora, com
o seu treinador, que ele vai decidir qual a técnica que melhor se adequa às
suas qualidades.

19 - 40/.... anos: Normal ou Sensacional

- andebol: quero ou não quero?
- estado físico: até quando vou jogar?
- estado psíquico?
- técnica adequada?

Chegado a esta fase, e a partir daqui, dá-se a separação: os guarda-redes
normais e os sensacionais. É agora que o guarda-redes tem que saber se está
disposto a jogar Andebol ou não, tem que tomar consciência do seu estado
físico e saber até quando jogar.
Quanto à questão psiquica, vimos que foi por isso, que Olsson deixou de
jogar, porque a concentração tem que ser total, quando não o fôr está na
hora de abandonar.

Em relação à técnica, que já deverá estar escolhida, é uma questão de
aperfeiçoar detalhes, e trabalhar sempre para se melhorar a técnica que se
escolheu, evoluindo com a evolução do próprio jogo.

Ideias base deixadas antes da sessão prática:

- para Mats Olsson, a colocação das mãos deve ser semelhante à posição do
"boxeur": à frente do peito, no campo visual do guarda-redes, com os dedos
ligeiramente flectidos. Isso permite que os deslocamentos sejam feitos sem
perda de equilíbrio. A posição de braços esticados acima da cabeça, ou
mesmo ligeiramente ao lado, utilizada pelos guarda-redes de menor estatura
para, aparentemente cobrir mais os ângulos, acaba por retardar o
deslocamento e provocar desiquilíbrios. A posição de "boxeur" permite ter
as mãos no centro da actuação do guarda-redes estando à mesma distância das
intervenções para cima ou para baixo. Por outro lado, e nomeadamente nos
remates de ponta, se o guarda-redes coloca as mãos acima da cabeça deixa de
saber para onde esperar o remate uma vez que tudo está, aparentemente,
tapado; ora como o guarda-redes PENSA, se mantiver as mãos em frente ao
peito pelo menos sabe que a zona da cabeça está desprotegida e que pode
esperar um remate para essa zona. Acaba por ser como que um convite ao
rematador.

- quanto ao trabalho de pernas, que acaba por ser fundamental, Mats Olsson
defende a posição de joelhos flectidos e calcanhares ligeiramente elevados.
Defender em pontas e pernas esticadas, mais uma vez uma posição muito usada
pelos guarda-redes pequenos, dificulta o deslocamento e a entrada em acção.
Quando o trabalho físico foi bem feito, a força de pernas é suficiente
para, a partir de uma posição flectida, o guarda-redes chegar a onde quer.

De tudo quanto foi dito ressalta que a base de um guarda-redes reside no
TRABALHO FÍSICO, na ATITUDE, e na TÉCNICA DE BASE.
Não é fundamental que os guarda-redes sejam muito altos. O que importa é
que sejam inteligentes e tenham uma grande atitude. O resto é trabalho.
Atingida determinada fase de evolução, o treino passa pelo aperfeiçoar e
trabalhar de pequenos detalhes.

SESSÃO PRÁTICA: TREINO DE JOVENS

Aquecimento sempre com bola, e com os guarda-redes integrados:
- corrida simples em drible
- corrida em drible com elevação de calcanhares
- corrida em drible com elevação de joelhos
- fazer rolar a bola e pará-la com um dos joelhos, alternadamente
- grupos de 2:
a) com duas bolas passam uma bola com as mãos e outra com os pés
b) passe só com as mãos com deslocamento em todas as direcções
c) um dos jogadores atira a sua bola ao ar recebe a do colega, volta a
passar e recepciona a sua;
d) etc. há uma série enorme de exercícios


Passamos depois ao aquecimento dos guarda-redes. Se queremos treinar
técnica, como é o caso, uma série de 12 remates para cada guarda-redes é o
ideal. Com maior quantidade de remates o jovem acaba por perder
concentração, a técnica começa a ser mal executada e o atleta passa a
fazer trabalho físico. É preferível 12 remates a 100% de concentração e
rapidez ,do que mais a um nível inferior.
Na fase de aquecimento é fundamental deixar os guarda-redes defender e
garantir que a técnica base está presente.

- bolas para as mãos: o contacto com a bola é precioso - a bola é uma
amiga, não uma inimiga. É fundamental parar a bola e não repelir a bola.
- defesas para os ângulos superiores: Mats Olsson frisou a importância de o
apoio ser feito com a perna contrária ao lado para onde a bola vai - isto
faz parte da técnica base.
Isto porque em caso de necessidade, a perna do lado da bola está livre para
intervir em qualquer altura, o que não acontece se o apoio for feito sobre
ela.
- guarda-redes nos 4 metros com as bolas a serem rematadas para a zona da
anca. O guarda-redes não mete os braços à bola, só intervindo com as
pernas. A perna que vai defender sobe flectida lateralmente, junto ao corpo
e a extensão só é feita depois conforme um maior ou menor afastamento da
bola face ao corpo do GR.
- guarda-redes um pouco à frente da linha de golo, bolas a meia altura com
intervenção a duas mãos.
- bolas para baixo, com o rematador a atirar em salto: na escola jugoslava
o guarda-redes tenta a defesa sem abandonar o solo, oferecendo à bola
apenas o pé e parte da perna, o que significa que no fim da acção continua
de pé. Mats Olsson defende antes a escola nórdica, em que o guarda-redes
defende este tipo de bolas em queda. A superfície corporal oferecida à bola
é maior e por isso a probabilidade de êxito aumenta. É verdade que se o
guarda-redes não cai está mais depressa em condições de defender uma
segunda bola. Mas, diz Olsson se a 1ª bola entrar não há ressalto, por isso
o importante é defender a 1º bola.
Em todas estas acções é fundamental que o guarda-redes mantenha o contacto
visual com a bola que está a defender. É errado quando neste tipo de séries
de aquecimento, a atitude é de esticar um braço ou uma perna, conforme o
exercício, e defender mantendo os olhos direccionados para o rematador
seguinte. O Guarda-redes tem de direccionar sempre a sua atenção para a bola.

Seguiram-se vários exercícios:
- tapam-se zonas laterais da baliza, o que a torna mais estreita, para que
o guarda-redes defenda a zona central. O espaço a defender vai sendo
alargado conforme a eficácia do GR vai aumentando. Os remates partem dao
9m, da zona central.

- dois cones na zona central da baliza, o guarda-redes tem que fazer o
deslocamento e defender alternadamente remates livres, dos laterais, ao
primeiro poste. O deslocamento, que é o que se está a treinar, deve ser
feito com as pernas bem flectidas e na altura do remate o guarda-redes deve
estar já bem colocado para lá dos cones no lado que vai defender e com as
mãos na posição ideal para poderem interceptar a bola em qualquer altura.


Olsson é contra as séries de remate livre para cima ou para baixo. Defende
antes que o remate deve ser para determinado lado uma vez que essa é a
situação real de jogo. Quando há colaboração com a defesa o guarda-redes
sabe que pode esperar uma remate a direito, ou, na ausência de colaboração,
um remate cruzado, não um remate para baixo ou um remate para cima. Daí a
importância da perna livre do lado da bola e da colocação das mãos numa
zona central.
-remate livre dos laterais, ao 1º poste mas agora o guarda-redes tem que
aguentar ao máximo a sua saída do lado contrário ao centro imaginário da
baliza.
- remate livre dos laterais, ao 2º poste com o guarda-redes a tocar no 1º
poste antes de sair para defesa.
- remate das pontas, ao 2º poste, com ângulo fechado (estamos a trabalhar
com jovens).
Nos remates das pontas é necessário que o GR tenha consciência de que tem
que usar o corpo todo para defender e não apenas as mãos ou as pernas.
Neste tipo de remate a bola para entrar tem que passar no seu raio de
acção. Por isso é fundamental aguentar ao máximo numa posição de
expectativa; se reagir cedo demais está a dar hipóteses ao rematador. A
posição ideal é estar quieto, meio passo à frente do poste, e se o
guarda-redes é de baixa estatura não deve atacar demasiado a bola, ou seja
não deve subir demasiado em direcção ao rematador pois dessa forma está a
abrir a 3ª dimensão do remate (o dito "chapéu"). Se o rematador ganha algum
ângulo o guarda-redes tem que ir acompanhando essa trajectória mas sempre
de frente para o rematador, não pode "abrir a baliza" colocando o seu corpo
paralelo à linha de golo.



NORMAL OU SENSACIONAL

Depois de assente que a base de qualquer guarda-redes é a ATITUDE, o
TRABALHO FÍSICO e a TÉCNICA DE BASE, vamos ver o que faz falta para se ser
um bom guarda-redes.

1º BOM ESTADO FÍSICO

- FORÇA: é necessário dar prioridade ao trabalho de pernas e ao tronco.
Força de pernas é fundamental para o restante desenvolvimento do
guarda-redes. Olsson lembra que na selecção da Suécia, nos testes físicos
as melhores marcas no teste da força de pernas eram dos guarda-redes - ele
próprio e Svensson.

- POTÊNCIA: trabalhar muitos saltos de plinto e multissaltos. Os
guarda-redes têm que treinar muito os saltos verticais e não tanto os
saltos horizontais.Aqui os resultados dos GR eram 2º e 3º da equipa

- EXPLOSIVIDADE: é o que permite que o guarda-redes aguente ao máximo o
momento de entrada em acção. Se a explosividade do Guarda-redes é boa ele
pode esperar mais tempo pela bola. Como vimos atrás, se os exercícios são
muito longos o guarda-redes perde explosividade, por isso temos que
trabalhar em séries curtas.

- ELASTICIDADE: é também bastante importante e pode ser trabalhada em
qualquer altura do treino. Para os guarda-redes não há tempos mortos de
treino, podem sempre trabalhar enquanto o outro colega está na baliza.

- RESISTÊNCIA: a acção do guarda-redes é feita de intervenções curtas mas
durante um longo periodo de tempo, no qual tem que estar plenamente
concentrado. Por isso a resistência tem que ser trabalhada da mesma forma
que os jogadores de campo. Não pega a desculpa: sou guarda-redes, não
preciso de ir correr 30m ou 10 km.


2º BOM ESTADO PSÍQUICO

- QUERER/ODIAR: querer treinar, querer jogar, querer defender, odiar
sofrer golos. O guarda-redes que não fica incomodado por sofrer golos nunca
será guarda-redes.

- CONFIANÇA: em si próprio, no treinador, nos colegas. O guarda-redes tem
que confiar na sua própria preparação, no tipo de trabalho que está a
fazer, em todos os momentos, e não apenas neste ou naquele jogo. Tem também
que confiar no treinador, no tipo de treino que é ministrado, na forma da
equipa jogar, nas indicações que lhe são dadas, e tem que confiar nos
colegas de equipa.

- HUMILDADE: temos que partir de um princípio que é o de que um
guarda-redes sem defesa não vai longe. Por isso o guarda-redes tem que
trabalhar em conjunto com a defesa, tem que apreciar o trabalho defensivo
dos colegas. O bom guarda-redes não pode deixar de valorizar o trabalho do
adversário sob pena de cair no ridículo porque o "gordo" lhe marcou 3/4 golos.

- CONCENTRAÇÃO: é fundamental 100% de concentração em todos os momentos,
seja em treino seja em jogo, mas particularmente em jogo, onde as
intervenções são mais curtas e espaçadas. Se tens 60 jogos por época só
tens que te concentrar 60 horas por época. Tens que o fazer se queres ser bom.

- DIVERSÃO: diverte-te. Jogar Andebol não é nenhum castigo.

- 0 GOLOS: este tem que ser o objectivo do guarda-redes - sofrer 0 golos.
O ponto de partida tem que ser esse. Se aceito sofrer golos como posso
melhorar e evoluir?

DIFERENÇAS ENTRE UM GUARDA-REDES NORMAL E UM
GUARDA-REDES SENSACIONAL


- Preparação para o jogo: quando um jogo acaba começa imediatamente a
preparação para o seguinte. Podemos falar da alimentação por ex.; Mats
Olsson refere que ele próprio não bebia cerveja 24 horas antes da
competição. Outro exemplo dessa preparação é o o visionamento de um vídeo
do adversário: um GR normal fixa para onde sai o remate. Para um GR
sensacional não interessa tanto para onde sai o remate mas mais como chegou
o jogador a essa situação de remate: qual foi a combinação táctica que o
permitiu, se foi em apoio ou suspensão, se o atacante tinha outra opção de
remate ou passe, etc. Isto está directamente relacionado com a questão que
vem a seguir,

- Saber ler o jogo: um GR sensacional, que como já vimos PENSA, sabe ler o
jogo, e consegue prever as situações de finalização podendo por isso
antecipar algumas soluções; conhece as possíbilidades de remate que o
jogador tem, sabe as combinações tácticas existentes, domina os tipos de
remate, as diferentes colocações da mão que pega a bola e que tipo de
remate podem surgir a partir daí.Para tal o guarda-redes tem que seguir com
atenção o treino táctico.

- Contacto com a bola: é fundamental manter sempre um contacto visual com a
bola.

- Um bom guarda-redes faz defesas, não é atingido com a bola.

- Um bom guarda-redes tem o nível mais baixo alto: o guarda-redes é tanto
melhor quanto menor são as suas oscilações de rendimento. Se um GR defende
30 bolas num jogo e 3 no outro e outro GR defende 20 bolas num dia e 10
noutro, este é melhor do que o primeiro.


Colaboração Guarda-Redes/Defesa

A - Remates de 1º linha: a melhor forma de o defesa ajudar o GR é entrar em
contacto com o atacante. Quando o defesa não consegue esse contacto deve
pelo menos obrigar o rematador a atirar a direito, deve evitar que ele
consiga cruzar o remate. Isso permite ao Guarda-redes poder intervir com
grande grau de eficácia.
Mats Olsson defende que o guarda-rede tem que ter confiança no defesa, e
tem que manter o sistema o máximo de tempo possível, sob pena de começar a
ser batido na maior parte dos remates. As rectificações deverão ser feitas
ou nos descontos de tempo ou no intervalo.


B - Penetrações: Os defesas devem tentar empurrar os atacantes o máximo
possível para o exterior do terreno de jogo, obrigando-os a perder ângulo,
evitando que eles consigam rematar numa zona frontal à baliza.


O Guarda-redes deve manter o contacto com o solo, no sítio ideal de
intervenção, o mais tempo possível. Quando entra em acção deve fazê-lo
mantendo um apoio e defendendo com a perna do lado da bola e se possível
com os dois braços. Mats Olsson não é defensor do leque completo, dizendo
que esse tipo de acção deve funcionar apenas como uma surpresa e não como
uma forma de defender a baliza.
Dando o exemplo de uma penetração sobre a zona do Lateral Direito, se o
Guarda-redes opta por tapar o 1º poste coloca-se em frente à bola
"obrigando" o atacante a rematar ao 2º poste e tenta a defesa com a perna
direita no ar e a esquerda em apoio; se opta por fechar o 2º poste e
"convidar" ao remate ao 1º coloca-se em frente ao corpo do rematador e
defende com a perna esquerda no ar e a direita em apoio.


É importante que o GR tenha em atenção a última acção do defesa uma vez que
um último encosto ao atacante pode permitir um ângulo diferente do inicial.
Fundamental é também perceber qual a posição da mão da pega da bola e que
tipo de remate é que ela permite ao jogador.

C - Remates aos 6 metros: o ideal para o GR é que o pivot não tenha tempo
de o encarar. O defesa deve evitar que o atacante suba e remate de cima
para baixo. Neste tipo de acções o trabalho do guarda-redes deve ser feito
em profundidade e de acordo com as suas características e envergadura,
atacar a bola (e não o corpo do rematador) mais ou menos profundidade. O
espanhol Fort prefere muitas vezes esperar pelo remate quase em cima da
linha de golo.

D - Remates das pontas: O defensor move-se lateralmente para diminuir o
ângulo ao rematador ao mesmo tempo que o GR deve mover-se rapidamente para
se colocar na posição ideal e depois esperar, quieto, o remate.
Há que estar bem preparado pois se o ângulo for bem tapado, a bola para
entrar tem que passar no raio de acção do GR.

E - Contra-ataque: o guarda-redes deve jogar como líbero, e tentar anular
não só o 1º passe no caso de ele ser directo para um jogador isolado, ou
mesmo o 2º passe caso o contra-ataque adversário se desenvolva a partir de
um 2º passe ainda no seu meio campo.
O GR tem que ter consciência que um golo directo ou marcado dos 9m do
adversário vale tanto como outro qualquer por isso não há que ter medo de o
sofrer.

F - 7 metros: Quem manda é o guarda-redes, que tem que ter uma atitude
agressiva face ao rematador. Cada vez é mais normal assistirmos ao convite
do GR para que o rematador atire para determinada zona.
Na opinião de Mats Olsson não é benéfico que o GR se posicione numa posição
intermédia, a 2,5m/3m da linha de golo.
Ou fica nos 4 metros, o máximo permitido, ou então fica mais na expectativa
e coloca-se quase na linha de golo. Mats Olsson diz que pode ser uma
estratégia a colocação não no meio da baliza, mas antes ligeiramente do
lado do braço de remate.

Matos Olsson define 4 escolas de Guarda-redes:

1 - Escola russa: os guarda-redes são muito altos e fortes, trabalham para
cortar ângulos e trabalham com a defesa mas de uma forma estática: cada um
defende o seu lado da baliza. São por isso muitas vezes agredidos com a bola.

2 - Escola jugoslava: embora altos, são mais baixos do que os russos, mas
mais móveis e mais rápidos e explosivos. Nunca deixam o contacto com o solo
mas colocam-se muito bem, sendo mesmo excepcionais, em remates aos 6 metros
e das pontas. São vulneráveis em remates da 1º linha. Quase nunca se sentam
e dificilmente chegam aos extremos da baliza.

3- Escola sueca: são guarda-redes altos e muito flexíveis. Tem menos
contacto contacto com o solo que as escolas anteriores mas trabalham muito
bem, mas de uma forma interactiva, com a defesa. Muito bons em remates
exteriores.

4 - Escola alemã: quase parecem guarda-redes de futebol, trabalhando muito
com as mãos, defendendo não em queda mas em voo.


Mats Olsson diz que na sua opinião o guarda-redes ideal seria o que
conseguisse um cruzamento da escola jugoslava com a escola sueca.

Uma última ideia deixada nesta prelecção foi a de que

O QUE NÃO QUER MELHORAR DEIXA DE SER BOM.


Sessão prática

- Aquecimento de guarda-redes: igual ao da manhã.

- Remates de 1º linha, neste caso do lateral, sobre um defesa passivo. O GR
defende o remate a direito.



- Remate livre dos 11 metros sem oposição. O guarda-redes tem que aguantar
a posição base o máximo de tempo possível.

- Três atacantes - C, LD, LE - para um defesa. O C ataca e o passa a um dos
laterais, o defesa tem que reagir rápido e defender o lateral com bola que
remata directo.


- O mesmo do anterior mas pode haver penetração do lateral, e neste caso o
defesa deve tentar encurtar o ângulo. Tem de haver diálogo GR/defesa.


- Dois defesas para três atacantes - C, LD, LE - : o C cruza com um L e vai
bloquear um defesa. O L pode rematar, passar ao lateral contrário ou ao
central que ficou nos 6m. Maior complexidade da situação para obrigar o GR
a uma maior atenção e leitura da situação.


- Um defesa para dois atacantes mais um: cruzamento LE/C que ataca o defesa
na posição 1 e remate ou passa ao PE conforme o comportamento do defesa.

- Dois defesas para três atacantes - Ponta, Lateral e Pivot, em cada lado
do campo: o exercício começa com passe do PE ao LE deste ao LD que ataca a
baliza e joga com o Pivot ou com o PD. Inicia-se logo a situação contrária.

- Micro-ciclo de 3 remates:

A) remate livre do lateral para um determinado ângulo
B) remate, com defesa, do lateral contrário
C) remate do ponta ou do pivot em situação de ressalto.


Neste exercício o GR treina três coisas fundamentais: técnica base (remate
A), colaboração com o defesa (remate B) e ataque à bola ou aguentar na
ponta (remate C)

Mats Olson-Nacionalidade Sueca,considerado o Guarda-redes do Seculo e actual Selecionador de Portugal