quarta-feira, 5 de maio de 2010

Adeus aos Três Passos! O Handebol vai mudar, e muito! por Lucas Leonardo

Caros amigos, uma notícia quentinha, saída do forno!

Venho realizando um curso de pós-graduação pela Escola Superior de Educação Física de Jundiaí (ESEF-Jundiaí), coordenado pela Professora Rita Orsi, e o primeiro módulo específico sobre handebol já trouxe uma grande novidade.

Em aula ministrada por Sálvio Pereira Sedrez (coordenador do departamento de arbitragem da CBHb), algumas mudanças de regras foram apresentadas e entre elas, uma que promete mudar o que entendemos por handebol hoje.

Sai de cena o ritmo trifásico (o famoso ‘três passos’) e entra em cena a regra dos “CINCO CONTATOS”.

Uma mudança enorme e que deverá entrar em vigor no mundo a partir de agosto/2010, mas que no Brasil pode começar antes, devido à diferença de calendário das competições nacionais e européias.

Essa regra já é oficial, agora um jogador poderá realizar até cinco contatos com o solo quando em posse de bola. Essa regra, na realidade vem para tentar acabar com aquilo que em São Paulo, principalmente, virou o famoso “Mito da passada zero”.

Hoje, o handebol, segundo as regras oficiais, permite que o jogador, caso esteja em um momento de vôo, ou seja, sem tocar o chão, pegue a bola e ao cair (com um pé ou com os dois) tenha a chamada “passada zero” que não conta como um passo, logo, após a zerada, um jogador pode realizar mais três passos.

Além disso, depois dos três passos, um jogador pode driblar a bola e realizar novamente mais uma passada zero (desde que ao pegar a bola esteja novamente em momento e vôo) e depois mais três passos.

Essa forma de deslocar-se na quadra de jogo, sem dúvida, gera muita polêmica entre a relação arbitragem-treinadores-atletas, e é um dos fatores de mais erros de interpretação/reclamações de árbitros e treinadores.

Essas dúvidas ocorrem porque ao realizar a passada zero, o jogador deve ter o contato com o solo em apenas um ritmo. Cair com um pé na passada zero é naturalmente um ritmo único, logo, se o outro pé tocar ao solo, inicia-se a contagem de passos.

A grande dúvida sobre essa regra fica quando o jogador opta em cair com ambos os pés ao mesmo tempo. Se ele conseguir fazer isso, fica caracterizado um único ritmo, logo, mesmo que ambos os pés toquem ao chão, caracteriza-se a passada zero. Porém, se ao cair com os dois pés no solo, acontecer de um pé tocar primeiro que o outro (mesmo que seja em frações de segundo), caracteriza-se a passada zero e depois a primeira passada. Pronto! Está armada a polêmica!

A ideia dos “cinco contatos” é tentar acabar com essa interpretação e toda essa polêmica.

Se, ao pegar a bola estando em momento de vôo (seja por um passe, seja por ele ter driblado a bola anteriormente), o jogador cair com os dois pés, temos ali dois contatos, logo, ele poderá realizar mais três contatos para totalizar os cinco.

Se, ao pegar a bola estando em momento de vôo (seja por um passe, seja por ele ter driblado a bola anteriormente), o jogador cair com apenas um pé, temos ali um contato, logo, ele poderá realizar mais quatro contatos para totalizar os cinco.

NOSSA! Isso muda muitas coisas em nossas aulas e treinos não?! Com certeza!

Seguem algumas reflexões minhas (ainda bastante preliminares e até certo ponto polêmicas, eu sei) feitas no fim de semana sobre o assunto:

Considerações Pedagógicas na Iniciação

Com essas regras, será muito mais fácil estimular nossos alunos a gostarem do handebol. Será mais gostoso jogar com a bola, pois toda a dificuldade de fazê-los entender o que significa a tal da passada zero acabará.

Bastará ensinar que ao receber a bola, cinco contatos poderão ser feitos no chão até o momento em que ele opte ou em passar a bola, ou em arremessá-la, ou em driblá-la.

Se o handebol já era um jogo muito natural de ser aprendido nos termos ofensivos, agora será mais ainda!

Porém, ensinar a jogar sem bola (o que é uma das coisas mais difíceis do processo de ensino-aprendizagem, em minha opinião) será ainda mais difícil do que já é hoje, pois será mais difícil da criança achar razão para correr sem bola, porém, temos que ver como a modalidade se comportará com essa nova regra para avaliarmos se jogar sem bola será assim tão importante quanto é hoje ou mesmo tão afetado.

PONTOS A DESTACAR:

NO QUE SE REFERE À MAIOR POSSIBILIDADE DE ADESÃO DE NOSSOA ALUNOS NAS AULAS, PRINCIPALMENTE NA ESCOLA E NA INICIAÇÃO. PORÉM ENTEDER A VALIDADE DE JOGAR SEM BOLA SERÁ AINDA MAIS DIFÍCIL DE SER ENSINADO AOS ALUNOS.

Considerações Táticas Defensivas

Atacar será uma delícia!… mas defender… nunca foi tão difícil!

Sobre as defesas zonais altas (ou abertas, tais como o 3:3; 3:2:1 e outras variações):

* Ou elas se tornarão extremamente agressivas, a ponto de confundirem-se muito com defesas individuais;
* Ou então elas não serão mais uma boa opção, pois o jogador com a posse de bola, mesmo sofrendo contato, que caracterizaria a falta, poderá insistir um pouco mais (até dois passos a mais do que podia anteriormente) o que possibilitará maior abertura de espaços em largura, principalmente, numa defesa que já possui muitos espaços.

Imaginem um 3:2:1. O jogador mais avançado (que está no centro da quadra), ao realizar um contato no jogador com bola, poderá ser direcionado para a esquerda ou para a direita com mais largura do que hoje, pois uma das determinações visíveis hoje nas arbitragens é que a vantagem seja dada até o máximo de tempo possível. A defesa terá seu centro mais aberto (logo o centro, que tanto devemos proteger no jogo de handebol!) e se um armador cruzar com o central que atacou o defensor avançado da defesa 3:2:1 e assumir esse espaço, ele poderá com dois passos chegar ao marcador da base e com mais três passos fintá-lo.

Realmente, defender será muito difícil. O mais prático será defender-se em defesas bem fechadas, e isso implicará muito numa perca de qualidade do processo de ensino-aprendizagem de alunos da iniciação no que tange às questões estruturais defensivas.

PONTO A DESTACAR:

NO QUE DIZ RESPEITO À CARGA TÁTICA E ESTRATÉGICA, O JOGO SERÁ MUITO MAIS DE JOGADORES HABILIDOSOS DO QUE DE GRANDES ORGANIZAÇÕES ESPACIAIS ESTRATÉGICAS. O JOGO PERDERÁ BASTENTE DAQUILO O QUE HOJE É O GRANDE CHARME DO HANDEBOL – O INTENSO CONFRONTO E ESTUDO TÁTICO ENTRE DEFESA E ATAQUE! MAS GARANTO QUE QUEM CONSEGUIR LIDAR MELHOR DEFENSIVAMENTE COM ESSA NOVA REGRA (SOBRE A PERSPECTIVA TÁTICA, REINVENTANDO FORMAS DE JOGAR TATICAMENTE NA DEFESA) SE DESTACARÁ COMO UM GRANDE TREINADOR/PROFESSOR DA MODALIDADE.

Divulgação da Modalidade

Com essa mudança, o handebol será mais “bonito” de se ver sob a perspectiva da cultura brasileira. Estamos muito acostumados com o paradigma do futebol arte – voltado para jogadores muito habilidosos, que realizam dribles e fintas.

PONTOS A DESTACAR:

SE ESPAÇO NA MÍDIA BRASILEIRA É O QUE O HANDEBOL QUER, AGORA É A HORA DE INVESTIR. O JOGO SERÁ MUITO PLÁSTICO E TOTALMENTE ENGAJADO NAQUILO QUE O BRASILEIRO MAIS GOSTA DE VER NO ESPORTE: A IMPROVISAÇÃO, A DEFESA SUCUMBINDO AO ATAQUE PELA HABILIDADE INDIVIDUAL.

Conclusões (até certo ponto precipitadas)

De qualquer forma, a mudança de regras é sem dúvida válida e tornará o jogo mais dinâmico. Temos que apostar nessas mudanças para que o handebol cresça ainda mais!

Começarei, desde já a estudar com mais detalhes o que essas mudanças trarão de diferenças ao handebol, pois quero, particularmente, sair na frente!

Acho que essa deve ser a ambição de todos que trabalham com o handebol a partir de agora: sair na frente, ver como anular e como potencializar a utilização dessa nova regra do jogo.

Novos desafios se avizinham, pelo menos, até 2012, quando novamente as regras serão discutidas e pode ser que tudo volte ao normal, ou melhor, não tão ao normal, pois muitos iniciantes na modalidade já a terão vivido com a regra dos cinco contatos e ensiná-los a zerar e dar mais três passos será uma tarefa bastante difícil, mas é pra isso que estamos aqui, na parte de baixo desse imenso iceberg.