Análise do Jogo como Ferramenta Pedagógica
Existem muitas interpretações e manifestações para o ato de analisar o jogo. Alguns o chamam de scout quantitativo (passes certos, passes errados, etc..), outros o fazem apenas pela observação de vídeos, através de anotação de “lances do jogo” em campinhos sobre uma folha de papel, ou até mesmo através de sofisticados softwares computacionais que analisam o comportamento dos jogadores no momento do jogo.
Todas essas manifestações da análise do jogo são válidas, já que a preocupação em analisar o jogo sob uma perspectiva de “encontrar” indicativos que nos auxiliem no planejamento de aulas está embutida em todas.
No entanto, a análise do jogo pode ser dotada de outra perspectiva, tanto com relação aos seus objetivos quanto aos analisadores do jogo. Imaginem a analisar os jogos que são elaborados nas aulas sob a perspectiva do jogador aprendiz!
A idéia de suscitar aos próprios alunos analisarem o jogo/atividade da aula torna o ambiente de aprendizagem ainda mais rico, uma vez que eles passam a aprender a avaliar o jogo e a qualidade de atuação dos jogadores neste ambiente, bem como passam a compreender a importância de serem avaliados, sob uma perspectiva que fuja da idéia punitiva, como por exemplo, acontece muitas vezes em equipes de alto rendimento (ou infelizmente até mesmo no handebol escolar ou de categorias de base, já competitivas), que fazem os jogadores se preocupem mais com o scout do que com o jogar, reduzindo este momento de prazer, superação, cooperação, aprendizagem e “mergulho” no ato de jogar, para um momento onde eles são cosntantemente vigiados tendo suas atuações reduzidas apenas a números. (ler mais sobre o assunto relativo ao “vigiar e punir” em FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 2004.)
O mais importante, porém é salientar a importância de que esse tipo de análise possa e deve ser feita não só no ambiente de jogo formal, mas em qualquer atividade jogada que tenha imputada a lógica dos Jogos Coletivos baseadas, por exemplo, nos princípios operacionais do jogo citados por Bayer (1992) – ver mais sobre utilização pedagógica dos princípios do jogo , tornando o momento de análise mais aberto e mais provável nos ambientes de iniciação ao handebol.
Um passo importante para isso seria a construção em conjunto de modelos de análise do jogo, pautada em várias formas de análise, mas que, de acordo com Leonardo (2005) tenham como preocupação a inserção de categorias de análise que se refiram a:
(1) As “razões do fazer” (elementos táticos, movimentações);
(2) O “como fazer” (elementos técnicos do jogo – passes, arremessos, fintas);
(3) O local das ações (campo de ataque, campo de defesa, lado esquerdo, lado direito, centro da quadra); e
(4) Aspectos relacionados à cronologia das ações (seqüências de ações em relação ao tempo do jogo e ordem de ocorrência).
A partir dessas características presentes e do envolvimento dos alunos na construção e utilização das ferramentas desenvolvidas, a última etapa é a socialização das análises entre os alunos e com a intermediação do professor/treinador, gerando discussões e possibilitando a ascensão das análises para um plano mais crítico e que possibilite a compreensão do jogo e de diferentes formas de atuação e variação dessa atuação, tendo como meio reflexivo as análises feitas pelos próprios alunos.
Essa é uma estratégia viável e que pode ser realizada num dia específico da semana, que pode ser chamado, por exemplo, de “o dia das análises”, criando a expectativa e o costume da utilização de ferramentas dessa natureza no ambiente de aula.
Bibliografia
BAYER, Claude. La Enseñanza de los Juegos Deportivos Colectivos. 2. ed. Barcelona: Hispano Europea, 1992.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 2004.
LEONARDO, Lucas. O desenvolvimento de modelos de análise do jogo através da compreensão do jogo. (42f.) – Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, 2005