Teoria do Jogo – O Estado de Jogo
18 Novembro 2009 por Lucas Leonardo
Venho escrever sobre algo que vem sendo foco de meus estudos atuais (há pelo menos 1 ano, é verdade), que é a Lógica do Jogo, e no caso específico a lógica do jogo do handebol.
Tudo iniciou com conversas com o Prof. Rodrigo Leitão (um grande estudioso do jogo) em que ele me instigou muito sobre isso, me deixando com muita curiosidade de investir no estudo desse assunto, que rapidamente me levou à transferência desse conhecimento para o ensino do handebol.
Não é segredo para quem acessa esse site que considero o Jogo o principal meio de ensino contextual do handebol, pois é através do jogo que o aluno/atleta condiciona-se a responder às imprevisíveis necessidades que o jogo lhe exige quando atua numa partida. Existem muitas outras justificativas que me fizeram perceber no jogo um ambiente suficientemente capaz de garantir aprendizagem e isso pode ser buscado no site.
Clicando aqui você terá acesso aos principais textos que falam sobre a importância do jogo no processo de ensino publicados no site pedagogia do handebol.
Algumas das questões que sempre ouço quando realizo cursos e palestras (ou mesmo quando converso com companheiros de trabalho que não se sentem totalmente à vontade com o jogo enquanto meio de ensino) têm como eixos principais as seguintes dúvidas: “Como é que você tem certeza de que com o jogo o aluno/atleta aprende algo?” ou então “Você quer me dizer que se eu dou um joguinho qualquer meu aluno aprende mais do que se eu ensiná-lo como fazer um gesto técnico repetindo e aprendendo o padrão motor desse gesto?”
Minha resposta sempre é: “Depende!”
Quando alguém me ouve falando que “depende” deve imaginar que nem sempre realizar atividades que sejam descritas como jogos é a melhor forma de ensinar, e essa impressão é realmente verdadeira, porém, isso não siginifica que considero que haja outras formas melhores, vou explicar melhor abaixo.
Não basta, simplesmente, criar um joguinho e colocar seus alunos/atletas para jogar.
Sobre isso, gosto muito de uma afirmação que o professor Alcides José Scaglia faz em sua Tese de Doutorado quando ele conceitua jogo:
Antes de iniciar qualquer reflexão sobre o jogo e suas teorias, quero adiantar que o fenômeno jogo será aqui estudado na perspectiva de ser esse um sistema complexo, em que seu ambiente (contexto) determinará o que é jogo e não jogo, evidenciando a predominância da subjetividade em detrimento da objetividade (o estado de jogo). E é com este sentido de totalidade e complexidade, inseridos num ambiente que lhe é próprio, que procuro entendê-lo. (SAGLIA, 2003, p. 49)
O que ele quer dizer com isso? Vamos interpretar: ao dizer que o ambiente em que a atividade está inserida é que determina se essa atividade é jogo ou não, tendo ainda a dependência da predominância da subjetividade sobre a objetividade de quem joga, o autor nos mostra que mesmo que apliquemos uma atividade que se pareça com jogo, ela deve estar inserida no contexto em que a aplicamos, ou seja, deve ser significativa para quem joga e ainda deve garantir que ao jogar, nossos alunos/atletas tenham apenas no ato de jogar sua preocupação momentânea, prevalecendo o mundo do jogo sobre o mundo real. É o que Reverditto e Scaglia (2007) descrevem como o “jogo jogante”.
É isso mesmo pessoal! Para jogar, nossos alunos/atletas devem atingir aquilo o que o professor Alcides chama de “estado de jogo”, ou seja, o jogar plenamente, pois somente assim seremos capazes de garantir que ao jogar nosso aluno/atleta irá finalmente aprender. Tarefa nada simples para quem ensina o esporte, pois, se ao aplicar uma atividade que tenha “cara” de jogo, nosso aluno não jogar plenamente, ou mesmo se o jogo não for significativo para quem joga (não condiz com o contexto em que está inserido), não haverá aprendizado real. Por isso que sempre respondo: “depende!”
Já passei alguns problemas com isso. Algumas aulas que aplico, às vezes, não leva as atletas com qual trabalho para o estado de jogo. É realmente um fator difícil de controlarmos.
Quando minhas aulas têm esse problema, costumo parar a aula (ou chamar de canto a atleta – pois trabalhos com equipes femininas), conversar e entender o que está ocorrendo.
Geralmente há dois macro-fatores que levam a esse problema:
* A existência de algum problema extraquadra intervindo diretamente no dia de treino delas (já me deparei com pais em processo de separação, brigas com avós e tios, brigas internas entre as atletas, problemas na escola, algumas dúvidas sobre sexualidade e gênero – comum entre adolescentes – interferindo na entrega da aluna/atleta ao treino, entre outros fatores) que quando tratados de maneira aberta com o professor ou entre todos os colegas da equipe, possibilitam finalmente ao atleta desligar-se do mundo real (e seus problemas) e entrar no mundo do jogo.
* Elas me dizem que acharam o jogo chato, muito fácil ou muito difícil, levando-me a adaptar as regras do jogo, garantindo que o jogo seja adequado ao contexto que o aplico, levando as atletas a finalmente atingirem o estado de jogo necessário para que a aula se desenvolva de maneira normal e satisfatória.
Logo, como eu já escrevi em um artigo desse mesmo site em abril/2008 (clique aqui para ler o artigo), não basta ser jogo, pois ele deve ser significativo para que o joga.
Dessa forma, destaco a necessidade de entendermos o jogo enquanto metodologia e para isso faz-se necessário entender como garantir o estado de jogo (o jogar plenamente).
Espero que esse texto introdutório mostre que não basta aplicar um atividade que se pareça com jogo para falarmos que ensinamos pelo jogo.