Jogos Pedagógicos – Estruturação do Espaço de Jogo
1 Abril 2008 por Lucas Leonardo
Um dos fatos muito recorrentes da iniciação dos Jogos Desportivos de oposição, luta direta pela bola e invasão de quadra (Bayer, 1994), como é o caso do Handebol, é a existência de uma estrutura jogada da modalidade, na qual prevalecem a centração da atenção na bola, pouco estímulo ao uso da visão periférica, pouca coletividade e presença de comunicação na ação baseada na utilização de estímulos vocais: “Eu, eu!!”, “Aqui, eu to ‘livre‘”, “Passa pra mim!”. Garganta (1995) descreve essa fase do jogo como a fase anárquica, ou seja, uma fase em que o jogo ainda não obedece à regras/conceitos de caráter coletivo, prevalecendo a utilização de recursos individuais, a busca incessante pela bola por todos os participantes e por sua vez um preenchimento pouco racional do espaço de jogo, como mostra o vídeo 1.
Video1. Exemplo de jogo com característica anárquica
Garganta (1995) destaca que para uma análise da evolução dos níveis do jogo de nossos alunos/atletas devemos nos atentar para os seguintes pontos:
(1) a Comunicação na Ação;
(2) a Estruturação do Espaço; e
(3) a Relação com a Bola.
Sendo que, quanto mais o jogo evolui, esses aspectos tornam-se mais próximos daquele handebol que assitimos.
Ou seja, a comunicação se torna cada vez mais baseada nas relações entre as respostas corporais de nossos colegas de jogo e adversários com menor apelo ao estímulos auditivos.
No caso da estruturação do espaço, verifica-se maior distribuição longitudinal do jogo – amplitude de jogo – e consciência da importância do jogo lateralizado, utilizando o jogo em profundidade quando em ideal situação de busca da finalização a gol.
A relação com a bola caminha no mesmo sentido, havendo maior descentração da posse da bola, valorizando a liberação da bola para outros companheiros (realização de passes) uma vez que passando a bola, ela se torna mais rápida e torna o jogo mais dinâmico.
A evolução descrita a cima, torna possível a verificação de 4 diferentes fases do desenvolvimento do jogo, ainda de acordo com Garganta (1995), que são:
(1) Fase Anárquica;
(2) Fase de Descentração – em relação à bola, havendo melhor preenchimento do espaço de jogo;
(3) Fase de Estruturação – maior presença de funções táticas do jogo;
(4) Fase de Elaboração – presença de estratégias claras e atuação em função dessa atuação;
Mesmo sem maiores descrições e análises de cada uma dessas etapas, podemos perceber que um jogo como aquele mostrado no vídeo 1 necessitará evoluir, para que nossos alunos sejam capazes de jogar com mais qualidade o handebol.
Esse processo, no entanto, não deve assumir um caráter mecanicista, negando o paradoxo da abordagem tática do jogo sob a o prisma do tecnicismo, uma vez que é impossível que inteligência de jogo e compreensão tático-estratégica seja adquirida de forma mecânica e cartesiana.
Imaginem que grande contradição: para ensinar meu aluno a preencher melhor os espaços do jogo, colocar “x” nos chão, ou especializá-lo a jogar numa das posições “oficiais” do handebol, não permitindo que ele experimente as possibilidades do jogo.
Essa atitude seria análoga ao ensino do passe no handebol pautado numa estratégia de ensino tecnicista, desfragmentando o passe do jogo, descontextualizando-o do todo do jogo.Para ensinar as questões relativas à compreensão estratégica do jogo, nossos alunos devem ser expostos a situações condicionadas do jogo em que eles sejam levados a vivenciar diferentes possibilidades de jogar o jogo, fazendo-os compreender novas possibilidades de jogar o jogo, por própria conclusão, por estímulo do professor, por ajuda dos colegas.
Abaixo, podemos ver uma forma de ensinar a importância da distribuição racional do espaço do jogo, através de um jogo de bola com as mãos, com regras que estimulem a importância de buscar espaços vazios da quadra.
Vídeo 2. Jogo dos Espaços Vazios
Numa atividade como essa, estariam liberadas as regras básicas de locomoção – drible e ritmo trifásico e combinação entre ambos – porém haveria uma limitação quanto ao preenchimento dos espaços. Somente um jogador de sua respectiva equipe poderá ocupar um dos espaços delimitados – usando giz, cordas, fitas adesivas etc.. – havendo um predomínio do confronto 1×1 e da busca de preencher diferentes espaços daqueles em que seu colega de equipe estará ocupando.
Ao final de atividades dessa natureza, devem ser realizadas reflexões em conjunto com os alunos, através da compreensão das formas de atuação do grupo quando ele estava livre, sem regras relacionadas ao preenchimento de espaços e depois com as regras de preenchimento.
Essas conversas devem sempre ser um caminho de “ida e volta de informações”, permitindo que dentro das possibilidades do grupo seja possível a utilização cada vez maior de um melhor preenchimento de espaço, estimulando a verificação de que buscar espaços livres facilita a manutenção da bola e também a realização de passes.
No caso de especialização ou de um grupo mais avançado nesse conceito de jogo – o preenchimento do espaço do jogo, a comunicação e também o grau de centração na bola – pode-se estimular a utilização de estruturas defensivas zonais, mostrando a importância que a defesa zona possui para maior organização defensiva, conforme mostra o vídeo 3, na qual uma equipe hipotética dificulta a progressão da bola em direção ao seu alvo.