quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Talento Desportivo no Andebol.

O Talento Desportivo no Andebol.
Cunha, António, 2004




Introdução

Aumentam significativamente as discussões sobre a aprendizagem nos desportos colectivos neste Século do desporto. Estamos constantemente a ser “invadidos” pelo fenómeno desportivo, gerador de emoções, de paixões, de desejos e motivações, em suma, um desporto que faz já parte do nosso quotidiano.
O Andebol, como jogo colectivo que desde sua criação, em meados de 1915, até os dias actuais evoluiu de forma espectacular, porém traz consigo problemas sérios que obrigatoriamente temos de debater, desde a composição das competições aos processos de treino, à selecção e detecção de talentos desportivos e, também muito importante, as questões de interdisciplinaridade na modalidade de Andebol.
Nesta apresentação, irei abordar a questão da selecção do talento desportivo e a forma de desenvolvimento de alguns atletas que atingiram um determinado sucesso desportivo durante as fases de desenvolvimento e os melhores resultados nos períodos juvenil e adulto. Dessa forma, é imprescindível compreender os conteúdos a serem trabalhados em todas as fases de desenvolvimento da aprendizagem motora. Alguns pontos a serem abordados são: o processo de desenvolvimento do talento no Andebol e as etapas de preparação a longo prazo.



O Talento Desportivo

O principal objectivo do desporto consiste em alcançar o resultado máximo do atleta. Por isso, torna-se necessário seleccio¬nar jovens talentosos, os quais possam com segurança atingir altos resultados desportivos em situações extremas, o que é característico nos desportos de alto nível.
A selecção de talentos nos desportos passa a ser um assunto de muito interesse para treinadores e pesquisadores, devendo ocorrer com base na revelação e avaliação das capacidades bem determina¬das e estáveis do jovem, porém, o problema do diagnóstico e selecção de talentos nos desportos advém de vários aspectos como social, económico, ético, pedagó¬gico, etc., no entanto, inicialmente, o primeiro contacto prende-se com a orientação técnica e indica¬dores específicos da modalidade de Andebol.
As aptidões inatas constituem a base das capacidades motoras que auxiliam no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos níveis desportivos, no entanto, o resultado desportivo não depende essencialmente da aptidão inata, mas sim e também, das oportunidades criadas para alcançar esse resultado. Desta forma, temos que saber discer¬nir as aptidões apresentadas pelo jovem no momento da selecção de talento com as suas possibilidades potenciais com¬petitivas no futuro, foi desta forma que consegui implementar um sistema de treino adequado às exigências desportivas e rentabilizar a carreira desportiva com enorme sucesso de inúmeros jogadores de Andebol.
Sabemos que a hereditariedade apenas limita o potencial, mas as capacidades desenvolvem-se em consonância com a influência social, educacional e de treino, podendo dizer a partir daqui que o desempenho óptimo é determinado pelo complexo das capacidades, inatas e adquiridas.



A Selecção de Talentos

A selecção de talentos nos desportos pode ser englobada em três grandes etapas.

A primeira tem como objectivo o aproveitamento da maior quantidade de talentos, onde ocorre a selecção preliminar e a organização da preparação inicial, a segunda, a etapa de aperfeiçoamento desportivo e, por último, a etapa de orientação desportiva.
Os critérios que determinam o aproveitamento das crianças e dos adolescentes estão relacio¬nados com a estatura, peso e constituição corporal, etc., sendo a observação do treinador e professor de educação física factores preponderantes para uma selecção correcta no decorrer dos treinos, ou mesmo durante as aulas de educação física e nas competições.
A prática desportiva teste¬munha que, na primeira etapa, é muito difícil revelar o tipo ideal das crianças possuidoras das qualidades morfológicas, funcionais e psicológicas indispensáveis para a futura especialidade, já que as diferenças individuais existentes no desen¬volvimento biológico dos jovens dificultam esta análise.
Na segunda etapa o jovem deve ser observado com maior rigor. O treinador, com base nas observações pedagógicas anteriores, já reúne condições de avaliar os jovens de forma mais minuciosa, pois já teve a oportunidade de colher os dados em exercícios de controlo de treino e nas competições.
Os principais critérios nesta etapa constituem-se na análise do ritmo da evolução dos padrões de movimentos e desenvolvimento das capacidades motoras, possibilitando prever as metas do aperfeiçoa¬mento desportivo.
Na terceira etapa (orientação desportiva) é onde determinamos a especialidade do jovem. Para isso, analisa-se o atleta cuidado¬samente para aumentar a segu¬rança ao determinar sua especia¬lidade. Destacamos os principais procedimentos nesta etapa: medidas antropométricas, obser¬vações psicológicas, exames fisiológicos e médico e análises sociológicas.
De muitos estudos realizados, por exemplo, no processo de selecção de talentos para o Atletismo, destacando os seguintes factores: somatótipo, habilidade técnica desportiva, preparação física geral e especial e características psicológicas.
Por exemplo, nas modalida¬des de ginástica, os componentes de crescimento e desenvolvimento, a força relativa e a flexibilidade são relevantes para selecção de talentos.
Nos desportos de combates, a selecção de talentos é realizada com base nos seguintes crité¬rios: assiduidade, insistência, maturidade, rápida assimilação do conhecimento e formação dos hábitos motores, existência de elementos criativos no processo de ensino e aperfei¬çoamento da técnica.
Nos jogos colectivos as perspectivas dos atletas devem ser determinadas por meio de análise das capacidades específi¬cas, para aumentar significativamente as condições de sucesso na solução dos problemas técnico-táctico desportivos.
No entanto, a principal forma de selecção dos talentos desportivos ocorre com a competição.



O processo de desenvolvimento do talento

Para atingir o sucesso desportivo a nível nacional e internacional é necessário um planeamento desportivo sério e rigoroso, em todas as suas vertentes, projectando igualmente as influências sociais e culturais a atingirem.
O processo de desenvolvimento desportivo do talento desenvolve-se a par com todos os outros atletas, a única diferença reside nos níveis de dificuldade apresentados, na vontade e motivação para o trabalho.
Desta forma podemos envolver o desenvolvimento desportivo dos mesmos em várias etapas, etapa de formação básica, etapa de treino especifico e etapa de treino de alto nível.
Para a etapa de formação básica, alguns autores afirmam que a mesma se deve iniciar por volta dos 10 anos, altura em que as crianças frequentam o 1º ciclo do ensino básico. Esta ideia, perfeitamente adequada, sustenta em parte, já se fez mais do que agora, a prospecção que muitos clubes desportivos realizam neste nível de ensino. Hoje, muitos preferem “comprar” atletas já formados para enquadrar nos plantéis.
A etapa de treino específico, dos onze aos 14/15 anos, orienta-se para a aquisição progressiva e refinada dos movimentos e o desenvolvimento psicomotor integral, possibilitando a execução de tarefas mais complexas. Temos no entanto que tomar em atenção que, nesta etapa, não importa só a especialização dos atletas, é necessário que neste período as crianças e os adolescentes tenham experiência em várias modalidades, através da diversificação de actividades.
A etapa de treino de alto nível prende-se obrigatoriamente para a especialização na modalidade onde, a partir deste momento, todo o processo de treino é enfatizado para trabalho em equipa e no trabalho individual.



O caso do Andebol

No caso específico do andebol, observa-se, na grande maioria dos casos, uma quantidade exagerada da reprodução empírica do conhecimento por parte das pessoas, principalmente de treinadores que actuam no treino com crianças e adolescentes. Este facto é real, pois têm sido inúmeros os jovens talentos desportivos para a prática do Andebol que, de um momento para o outro, abandonam a modalidade. O porquê deste facto deve ser realmente questionado e devidamente respondido, pois os factores ligados ao súbito abandono são concerteza mais complexos do que podemos prever.
É aqui, sem descurar outros casos que, o planeamento de treino de formação do talento desportivo deve rapidamente emergir, pois treinar como, para quê, com que objectivos, o que quero ser, aonde quero chegar, são questões que, durante o decorrer do seu processo de formação temos de saber indo responder.
Temos observado que a idade média de inicialização à prática desportiva de alto nível se tem situado com os atletas situados no escalão etário 14/15 anos, pois apesar dos poucos estudos realizados, a experiência com Carlos Resende, Eduardo Filipe, Paulo Morgado, Sérgio Morgado, entre muitos outros, são casos de evidente sucesso desportivo na modalidade. Contudo, neste trabalho de desenvolvimento é importante garantir a continuidade dos objectivos, meios e métodos do treino no que diz respeito ao desenvolvimento físico, fisiológico, psicológico, técnico-táctico e social em todas as fases para que não haja quaisquer problema na formação individual e colectiva do atleta.
No trabalho realizado, no qual eu estive directamente envolvido, observava-se minuciosamente o crescimento constante do volume das cargas e o seu aumento era gradativo. Nas fases iniciais, o objectivo principal foi a assimilação dos movimentos básicos e das acções táctico-técnicas, ou seja, partindo da razão de fazer para o modo de fazer e oferecendo a oportunidade aos jovens de conhecer o jogo utilizando-se do seu potencial intelecto. No aspecto físico, a coordenação dos movimentos foi o aspecto principal, não esquecendo simultaneamente os princípios e valores do desporto quando analisado enquanto fenómeno cultural.
O treino de especialização na modalidade foi acontecendo com a conclusão da formação dos sistemas funcionais, condicionado como é óbvio, pelas características do treino, como por exemplo o desenvolvimento da força, resistência, velocidade, flexibilidade, e coordenação, mas também pela individualidade biológica, desenvolvimento maturacional e acima de tudo pelo talento dos atletas.




Considerações Finais


Os profissionais que actuam com crianças e adolescentes no processo de treino necessitam ter boa formação pedagógica e também conhecimento profundo sobre as fases de desenvolvimento do ser humano. No Andebol, o técnico desportivo influência directamente no desempenho dos atletas podendo promovê-los com talentos desportivos, contudo, hoje, sem os conhecimentos científicos necessários ou então sem as parcerias multi-disciplinares bem delineadas, em vez de estarmos a favorecer a formação de jovens jogadores, estamos a eliminá-los da prática desportiva.
Se na fase inicial é de vital importância oferecer às crianças e jovens uma actividade alegre e motivadora, nas fases de desenvolvimento seguintes temos que, constantemente, avaliar, reformular e melhorar o nosso desempenho de forma a podermos responder adequadamente às exigências desportivas do jovem talento.
No entanto, temos de ter consciência que o jovem talento não se constrói sozinho, o apoio familiar, a escola, os amigos e outros, para além de muito esforço e interesse do praticante, são factores preponderantes que temos de saber gerir, pois sabemos que poucos atingem a performance na fase adulta, abandonando a modalidade em fases anteriores.