quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Especialização Precoce no Desporto José Carlos Oliveira Costa

Especialização Precoce no Desporto


Introdução

Com a realização deste trabalho pretendo reflectir um pouco acerca da especialização precoce no desporto, um tema bastante importante que deve estar sempre na mente de qualquer treinador que trabalhe com crianças e jovens desportistas.



Especialização Precoce

Antes de começar a abordar o que é a especialização precoce e quais as suas desvantagens e vantagens convêm sabermos o que significa especialização. Assim, especialização é uma atribuição unilateral para uma única actividade, é passarmos de um quadro muito diversificado para as exigências de uma única actividade.
Assim Especialização Precoce caracteriza-se por uma preparação desportiva de crianças e jovens, num momento em que as suas capacidades desportivas ainda não o permitem. Esta especialização tem como objectivo obter resultados de uma forma rápida, limitando uma evolução posterior.
Para evitar esta situação, os técnicos deverão possuir conhecimentos suficientes para saber quando a criança ou jovem poderá iniciar-se na especialização.
“Uma maçã não deve colher-se a meio da sua maturação. O seu sabor nunca será o mesmo” (Nadori, 1987). A criança deverá manter-se sempre no seu estado de prontidão: estado de equilíbrio entre as exigências proposta pela modalidade e capacidade de resposta da criança.
Na prática, não é fácil identificar a prontidão da criança, visto que o seu crescimento é diferencial, e por esse motivo, o treinador deve ter particular atenção.

Dimensões da Prontidão Motora

• Aspectos Biológicos: devido á variabilidade entre sujeitos, os estados de prontidão variam de criança para criança. No entanto, a modalidade também interfere na especialidade desportiva, isto é, os desportos técnicos obrigam a uma entrada precoce na preparação especializada.(ex.: ginástica)

• Aspectos Psicossociais: até aos 10 anos sabe-se que a criança não está desenvolvida psicologicamente para participar em competições. Até aos 12 anos, a criança vai assimilando capacidades de socialização que lhe permite competir.
• Aspectos Motores: a prontidão deverá ter em conta as competências motoras e técnicas que a criança possui, em relação á modalidade que pratica.

Observação: Desportos técnicos: ginástica, patinagem artística, saltos para a água e salto de esqui, são desportos que a prestação é condicionada essencialmente por factores sensorio-motores, em que as performances são avaliadas consoante a sua interpretação técnica  Idade 10 anos (excepto, saltos para a água e esqui) 14 anos
Desportos Tácticos: factores perceptivo, cognitivos  13/14
Causas da especialização precoce

1- Fenómeno da aceleração: alargamento dos períodos biológicos activos, em que ao começar o treino mais cedo significa o atingir de valores morfológicos e funcionais mais elevados no final do seu desenvolvimento. Pode estar associado á melhoria da higiene corporal, alimentação, actividade física controlada, que possibilita os jovens de suportar cargas mais elevadas;

2- Contributo cientifico (conhecimento do corpo humano) e fenómenos de arrastamento (ginástica arrastou os outros desportos)


3- Ausência de formação dos treinadores

4- Pressões exteriores ao treino

5- Adopção de um sistema de competição do desporto infantil à imagem das formas de concentração do desporto de alto nível.

Consequências da Especialização Precoce

No plano desportivo, sabe-se que muitos atletas não atingem as etapas posteriores, nem os rendimentos prognosticados. Noutros, o tempo de actividade no alto nível é reduzida, e muitos não atingem o alto rendimento, porque esgotam prematuramente a sua capacidade de prestação, abandonam o treino.
No plano da saúde, observa-se diminuições na eficácia do sistema imunológico e nota-se um desajuste no desenvolvimento corporal e motor devido a atrasos no crescimento, ossificação prematura.


Deste modo, a preparação desportiva deverá ser feita por etapas e estádios com ordem crescente, procurando criar condições favoráveis para os jovens saírem cada vez mais preparados para as fases profissionais.

Preparação Geral vs. Preparação Especifica

Assim, os modelos do desporto devem cumprir as premissas fundamentais para a formação dos jovens. (modelo: é uma antecipação ou formulação de um conjunto de propostas para a formação desportiva). Nestes modelos existe uma relevância muito importante para o treino geral e treino específico.

Desta forma, toda a aquisição, aprendizagem ou desenvolvimento de uma actividade supõe uma apreensão anterior de vivências semelhantes (embora não tão complexas). A aquisição de uma prática básica mais geral é fundamental para uma futura aquisição de uma prática mais específica.
Com isto, o processo de especialização deve ser feito de acordo com o princípio da especialização crescente das cargas, mas tendo em conta uma lógica temporal (respeitando as fases sensíveis).
Na prática desportiva, os treinadores de alto rendimento consideram uma perda de tempo a utilização de cargas gerais visto não se relacionar directamente com o rendimento, podendo o atleta ser prejudicado.

Resumindo…

• A Especialização Precoce: especialização cedo demais, com o objectivo de promover condições para a obtenção do rendimento (tem a vantagem de ocorrer uma rápida obtenção de resultados mas a grande desvantagem de limitar a sua posterior evolução) MAL SUCEDIDO!!!

• A Construção e o Desenvolvimento da Prestação: onde se faz de acordo com o desenvolvimento individual e a especialização progressiva. “ O primado é o da formação multilateral”. Assim, os resultados não são sempre a principal preocupação do treinador mas sim a formação geral, a formação de base do atleta para que este consiga nas seguintes etapas fazer a especialização na sua actividade e alcançar a maximização atingindo, desta forma, o alto nível, a optimização que todos procuram alcançar, onde os resultados já interessam  BEM SUCEDIDO (vantagem - treino diversificado e multilateral, rico em estímulos, sem rotina, mais motivação para o atleta, maior tomada de decisão) (desvantagem – a obtenção de resultados não é imediata mas sim a longo prazo, pois o objectivo é formar crianças para mais tarde estarem no alto nível, entre os melhores)




Conclusão


Em suma, o treinador deverá ser uma pessoa que conhece as especificidades biológicas, psíquicas e sociais do desenvolvimento da criança e do adolescente, sabendo utilizá-las na prática.
Assim, os treinadores dos mais jovens têm de depender menos dos resultados do presente e mais do número de desportistas que ajudam a atingir os estágios mais avançados da preparação desportiva.