quarta-feira, 28 de outubro de 2009

História andebol António Cunha

História andebol
António Cunha

O Andebol, na sua forma presente tem uma eventual história. Conhecidos historiadores da modalidade afirmam que o “Andebol” remonta à Antiguidade e, em todas as civilizações, sob uma forma ou outra, o jogo da bola à mão tem sido praticado em todos os tempos. Admite-se a invenção dos jogos com bola aos Lidios e Sardos, antigos povos da Ásia Menor, ou ainda aos habitantes de Lición, povo que se situava junto àqueles, como ainda aos Lacedemónios ou Espartanos, ao sul da Grécia, tendo-se até conhecimento dum tratado de jogo de bola, da autoria do lacedemónio TIMÓCRATES.
Há ainda conhecimento de muitos jogos praticados na antiga Grécia, citados até na “Odisseia”, de Homero como adiante veremos e entre os aficcionados desses jogos contam-se Alexandre Magno, Dionísio, Tirano de Siracusa e Sófocles.
Os gregos chamavam “esferistica”, ao jogo de bola e “esfaira” à bola, que em Roma tinha o nome de “Pila”.
As bolas eram feitas de diversas peças de pele ou tela, cosidas entre si, formando uma espécie de bolsa que se enchia de lã, farinha ou areia. Tinham diversas cores e eram enfeitadas com bordados e desenhos.
Conhecem-se as seguintes:
HARPASTA - de origem grega
TRIGON ou PILA TRIGONALIS - romana
FOLLIS - romana, de grandes dimensões, cheia de ar
FOLLICULUS - idêntica à anterior, mas mais pequena
PAGÁNICA - de tamanho médio e cheia de plumas

Quanto aos jogos em que estes esféricos foram utilizados, conhecem-se os seguintes:
EFÉBICO ou EPICENO
FENINDE
HARPASTON (GREGOS)
HARPASTUM (ROMANOS)
APORRAXIS
URANIA
Contudo, todas estas formas de jogo pouco têm de semelhante ao Andebol de hoje.
Em 1882, aparece na Checoslováquia um jogo de bola com muitas analogias com o Andebol de 7. Este jogo, criado e divulgado por Joseph Klenker, Inspector de Educação Física, e posteriormente codificado por Karas, tinha balizas com 2 metros de largura e 2,40 metros de altura e área de baliza com 2 metros de raio e dimensões de campo sensivelmente iguais. Este jogo baptizado de Hazena popularizou-se de tal maneira e dada a sua semelhança com o Andebol de 7, que este ainda hoje é designado naqueles países (República Checa e Eslovaca), por Hazena. Por outro lado consta também que em 1890, o Professor de Ginástica Konrad Koch, criou o “Raffballspiel” com características muito semelhantes ás do Andebol. Por volta do ano 1900, na Dinamarca, o Professor de Educação Física do Colégio de Ordrup, Holger Nielsen, cria e divulga um jogo de bola a que deu o nome de Hand-Bold, jogado por questões climatéricas em sala. Este jogo foi criado pela necessidade de corresponder ás necessidades lúdicas das raparigas, que durante as aulas de Educação Física se aborreciam vendo os seus colegas jogar o Futebol, jogo que não as atraia. As primeiras regras deste jogo foram publicadas em 1906, a área de jogo tinha 45 metros de comprimento por 30 metros de largura, 11 a 16 pessoas eram as recomendadas para jogar em cada equipa, só ao Guarda-Redes era permitido jogar a bola com os pés, os restantes jogadores tinham que lançar a bola com as mãos. Puxar o oponente era permitido para fazê-lo perder a bola e, era permitido ao jogador com bola correr com a bola nas mãos até à linha de golo como acontece no Râguebi.
Na Bélgica, em 1913, aparece no curso normal Provincial de Educação Física de Liége, pelas mãos do Professor Lucien Dehoux, o “Andebol das Três Casas”, que depressa se expandiu, chegando entre 1915 e 1918 a organizarem-se campeonatos.
Em 1915 na Alemanha, Max Heiser inventou e fixou as regras de um jogo de campo ao que chamou “Torball”, certamente inspirado pela literatura da época clássica (vide Odisseia), pois o jogo era praticado só por raparigas. Deste jogo vejamos algumas regras: praticava-se num terreno de 40x20, com uma bola medicinal ou uma bola de futebol revestida com pelos. A corrida com a bola na mão não deveria exceder os três segundos. A área estava situada a 4 metros da baliza que media 2,50x2,00 metros. O número de jogadores não era preciso.
Entre 1917 e 1919 Carl Schelenz e depois Carl Diem, interessaram-se por este jogo “Torball” e adaptaram-no para os rapazes. Carl Schelenz fez a codificação das Regras de Andebol, assim, o campo aumenta, o número de jogadores é fixado em 11, a área passa a medir 11 metros e a baliza semelhante á do futebol. A bola era de volei ou de futebol e no contexto de jogo introduz-se a corrida em drible e a luta pela posse da bola o que deu um carácter mais dinâmico e espectacular ao jogo.
Há quem atribua também a Hirschman, alemão como os seus compatriotas, a criação do Andebol.
Vem no entanto da América do Sul outra versão sobre a origem do Andebol. É o Uruguai a reivindicar para si a paternidade do jogo através do Professor de Educação Física António Valeta, criador aliás de muitos outros jogos nacionais uruguaios, que no final de 1916 idealiza u0m jogo como réplica do Futebol, mas onde são apenas utilizadas as mãos. Deu-lhe o nome de “Balon”. O jogo popularizou-se de tal maneira que, em 1918, se disputou o primeiro jogo oficial no Estádio Higiene e Salud de Montevideu.
Segundo os uruguaios, o Andebol tinha entrado na Europa, através de alguns marinheiros pertencentes a vários navios, detidos no porto de Montevideu. Ao iniciarem-se as hostilidades da Primeira Grande Guerra e internados em campos de concentração, estes marinheiros eram praticantes entusiastas da Educação Física e ao tomarem contacto com o Balon, desde logo se entusiasmaram. Mais tarde, ao serem repatriados, teriam difundido aquele jogo, e teria sido então Carl Schelenz o autor da compilação das suas regras, o que deu origem à suposição de haverem sido os alemães os criadores do Andebol.
Em defesa desta teoria temos o facto de em 1936, a própria Federação Internacional, aproveitando-se de o Andebol ter sido admitido, pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos, nomear o Professor Valeta seu Sócio Honorário. Um facto todavia deve ser assinalado. Todos os criadores dos jogos que deram origem ao Andebol foram Professores de Educação Física, que os utilizavam nas suas aulas para compensar o estatismo exagerado da Ginástica na época.
Podemos também concluir que cabe aos alemães a honra de serem os criadores do Andebol como desporto de competição e ao mesmo tempo serem os principais responsáveis pela grande expansão que ele hoje atinge.
Em 1934 são editadas as primeiras regras do Andebol de 7, jogo já então muito popular nos países nórdicos, principalmente na Dinamarca, pois devido ao rigor do clima, o Andebol de 11 não podia ser praticado no Inverno, pelo que se utilizavam os pavilhões para o seu treino, com a diminuição do número de jogadores e adaptação das dimensões do recinto e das balizas. Estas regras foram também aprovadas pela IAHF.
Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, o Andebol está presente na grande competição. O Andebol (11) faz a sua estreia nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, com a participação de seis equipas, com 105 jogadores, que foram divididos em duas séries:


(A) Alemanha, Hungria e U. S. A.
(B) Áustria, Roménia e Suíça

Em 1938, ao comemorar o seu 10º aniversário, a Federação já com 28 países inscritos, organiza o primeiro Campeonato do Mundo em Berlim e Leipzing. Em Andebol de 7, participam 4 países com a vitória a pertencer também à Alemanha.
A Segunda Grande Guerra levou no entanto à dissolução da IAHF, sendo em 1946 criada em Copenhaga a actual Federação Internacional de Andebol (IHF), com filiados de todos os Continentes.
Para este desenvolvimento muito contribuiu o aparecimento da variante de 7 jogadores, que o tornaram um dos desportos de equipa mais rápidos, contributo decisivo para a sua vertiginosa expansão. O Andebol de 11 começa então a perder significado.
A partir do ano de 1952 a prática do Andebol de 7 inicia um longo período de desenvolvimento em vários países, especialmente na Suécia. Na Checoslováquia e Roménia, o Andebol de 7 afirmou-se de tal maneira que, depois da Segunda Grande Guerra, lograram romper várias vezes a supremacia Sueca.





Munique, 1972,“O Andebol passou a desporto Olímpico”.

Finalmente, neste ano o Comité Olímpico Internacional determinou que o Andebol de 7 fosse englobado nos quinze desportos obrigatórios da mais alta competição desportiva mundial. Era o triunfo final, pelo qual se bateram os pioneiros da modalidade.



O Andebol em Portugal foi introduzido por ARMANDO TSHOP. O entusiasmo criado no Porto pela modalidade levou-o a publicar em Novembro de 1929 as regras da modalidade no já extinto jornal “Os Sports”. Ele foi o principal responsável e verdadeiro “suporter” pelo lançamento da modalidade no nosso pais.
A 31 de Janeiro de 1931 dá-se a apresentação oficial do Andebol na cidade do Porto, como número de abertura dum programa desportivo organizado pela Casa dos Jornalistas.
O Andebol de “Onze”, pela sua beleza, começava a atrair adeptos, praticantes e clubes. Modalidade que em beleza suplantava o Futebol, pela precisão dos seus passes e pela força e localização dos remates à baliza. Abriu a rivalidade Lisboa-Porto e estes encontros disputavam-se anualmente nas duas cidades.
Por acção conjunta das Associações de Lisboa, Porto e Coimbra, em Maio de 1938 é fundada a Federação Portuguesa de Andebol (F. P. A. ), surgiu como corolário dum primeiro e decisivo arranque das referidas Associações, tornando realidade, a nível nacional, a definitiva oficialização do nosso Andebol.
Em Janeiro de 1945, no Campo das Salésias, em Lisboa, o Andebol Português finalmente vê concretizada a sua estreia internacional ao derrotar a equipa representativa de Madrid por 8 - 1.
O andebol de 7 passou a ser praticado oficialmente em 1949 e novamente através do contributo de outro alemão, HENRIQUE FEIST, num torneio realizado em Cascais.


Resumindo...
Evolução do Jogo (Anos 60 a 00)

No plano táctico e estratégico poderíamos considerar que:



Década de 60
. fim da existência entre o clássico e a variante
. inicio do processo de desenvolvimento autónomo da modalidade na variante de sete
. inicio do recuo dos sistemas defensivos para as respectivas áreas de baliza, motivado pela melhoria das capacidades técnicas dos atacantes e pela redução do espaço de jogo
. alterações ás regras no âmbito técnico



Década de 70
. especialização do praticante de acordo com o lugar que ocupava no terreno
. reforço do processo de desenvolvimento do Andebol de Sete
. procura de jogadores de grande estatura, envergadura e peso
. especialização defesa/ataque com substituições sistemáticas
. reconhecimento internacional com a presença da modalidade nos Jogos Olímpicos de Munique (1972)
. degeneração da imagem do jogo por actos de dureza e brutalidade pondo em duvida o futuro da modalidade
. utilização de sistemas defensivos pouco agressivos (muro) - Jogos Olímpicos de 76 (Montreal)



Década de 80
. alteração da filosofia da generalidade dos desportos colectivos
. avanço gradual dos sistemas defensivos no terreno de jogo
. maior intervenção perante o ataque com o advento do conceito de “Agressividade” e que teve como consequência a melhoria das capacidades técnico-tácticas defensivas
. alterações às regras após os Jogos Olímpicos de Moscovo (1980) face à dureza e brutalidade dos jogos realizados
. contributo de novos países como a Jugoslávia, a Argélia, a Espanha e a Coreia do Sul, para uma nova formula de praticar a modalidade


Década de 90
. maior espectacularidade e beleza devido à evolução dos atletas no plano técnico e táctico, e ás características dos pisos que protegem os atletas nas quedas (jogo acrobático)
. maior disputa de espaços entre atacantes e defensores
. aumento da agressividade dos defensores no terreno para diminuir o rendimento dos atacantes (defesas mais abertas)
. maior numero de ataques e golos devido à melhoria do treino e disponibilidade dos atletas
. continuação das alterações nas regras com vista à importância do marketing e sponsorização, de modo a aumentar os orçamentos financeiros para aquisição e reforço do plantel
. importância na utilização de meios técnicos audiovisuais para transmissões televisivas, chamando a atenção de novos praticantes e adeptos
. maior objectividade na aplicação das regras do jogo por parte dos Árbitros
. domínio por parte dos atletas da ansiedade e o stress competitivo, que em cada momento põe em causa a eficácia nas acções realizadas
. capacidade de superação e motivação dos jogadores, treinadores e dirigentes nas metas a atingir devido concorrência de outras estruturas desportivas com os mesmos objectivos.

Década de 00
. melhoria substancial na relação treinadores/ atletas na estratégia de jogo a desenvolver dentro de campo
. cultura desportiva por parte dos atletas em situações criticas de jogo. Leque de situações multifacetadas
. organização das competições nacionais e internacionais de modo sistemático para obtenção da melhor forma desportiva
. inovação das estratégias de jogo:
. zonas criticas de remate sem oposição
. ”portas” para remates apoiados ou remates rápidos
. passes “rasgados” como forma de surpreender as defesas organizadas
. disciplina táctica/ estratégia em situações de inferioridade numérica
. alternância do tempo e ritmo de jogo em situações de inferioridade numérica
. redefinida a interpretação e oportunidade das decisões da arbitragem sobre a lei da vantagem, falta atacante e jogo passivo.