segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Construção de um Bom Defensor-Pedro Alvarez

Titulo
A Construção de um Bom Defensor

A defesa é uma das 4 fases do jogo de Andebol, na qual se tem como objectivo principal impedir que o adversário marque golo e ao mesmo tempo se recupere a posse da bola.

Defender implica; possuir um conjunto de características como a percepção e a astúcia, para se poder criar problemas no momento adequado ao ataque, associadas a outras características como; a coragem para o confronto físico que o choque permite e ao mesmo tempo uma boa preparação técnica e física que permitam ter sucesso nas acções realizadas.

O ensino e o treino da defesa normalmente apresenta grandes desvantagens quando confrontada com o ataque. Essas desvantagens resultam da desvalorização da importância das suas acções comparativamente com o ataque. No entanto sabemos hoje que as equipas que normalmente triunfam, são equipas equilibradas e que apresentam uma defesa forte e um ataque eficaz.

Logo à partida os jogadores apresentam uma maior disponibilidade e receptividade para treinar os aspectos relacionados com o ataque comparativamente com os da defesa. Também tenho notado que a maior parte dos treinadores dispõe de maior tempo na sua planificação para o ataque comparativamente com o utilizado para o treino da defesa. No entanto convém não esquecer que é na defesa que se constroem as vitórias que o ataque acaba por materializar.


Quando pegamos num jovem jogador, há que em primeiro lugar explicar-lhe a importância das acções da defesa, valorizá-las e ao mesmo tempo motiva-lo para elas.

A capacidade defensiva é modificável com o treino mas logo à partida poderemos identificar algumas características relacionadas com a personalidade de cada um como; a entrega, a coragem ou outras mais elaboradas como a percepção e a antecipação.

Poderemos então enumerar as seguintes diferenças entre os dois tipos de defensores mais comuns:



DEFENSOR BOM DEFENSOR
Apático Lutador
Passivo Dinâmico
Reactivo Antecipativo
Permite que o adversário prepare as suas acções Cria dúvidas e limita o tempo e o espaço de acção do atacante
Ultrapassado com relativa facilidade Difícil de ultrapassar
Preocupa-se apenas em realizar as acções na sua zona específica Após resolver os problemas na sua zona procura ajudar os companheiros

Desta forma quase que podemos caracterizar estes dois protótipos de defensores como sendo o defesa “egoísta e sedentário” (defensor) e o defesa “generoso” (bom defensor).

Segundo Laguna (1995) a defesa apresenta alguns objectivos tácticos e tarefas básicas. No que diz respeito aos objectivos tácticos após se perder a bola, deve-se evitar que algum atacante com bola consiga obter zonas favoráveis ao remate, assim como opor-se a todos os remates, dificultar o transporte da bola e recuperar as bolas incontroladas.

No que diz respeito às tarefas básicas consistem na oposição ao movimento dos atacantes e na oposição à bola.

Entendemos que a construção de um defensor deverá assentar em 3 grandes áreas:

1 – A estrutura mental
2 – As acções técnico – tácticas
3 – O reforço físico


A ESTRUTURA MENTAL

Para o ensino da defesa há que desde princípio estimular o gosto em defender, que consiste em procurar a bola, criar problemas para os atacantes e impedir que seja golo. A coragem é outra das características a estimular, pois o corpo muitas vezes tem que impedir a passagem da bola ou de adversários.

A criação de imagens poderá ser útil para o reforço de determinadas ideias transmitidas como “este é nosso castelo aqui ninguém entra”, ou “não lhes vamos dar tempo para pensarem e se organizarem como tanto gostam” ou “vamos ataca-los e criar-lhes dúvidas”.

É importante que na defesa o jogador se sinta confiante (quase poderoso), capaz de parar qualquer adversário e pronto para recuperar a posse da bola e sair para o contra ataque.

AS ACÇÕES TÉCNICO – TÁCTICAS

A defesa possui um conjunto de acções técnicas que isoladamente não significam nada, pois a sua eficácia depende do momento da sua realização e do seu grau de adaptabilidade às acções propostas pelo adversário.
Entre estas acções podemos destacar os deslocamentos, o bloco, o controlo físico, o desarme ou a intercepção. Por outro lado encontramos outro conjunto de acções que se encontram dependentes do adversário como são a marcação, o enquadramento, as ajudas, os contra bloqueios ou as trocas de adversário.

A posição base defensiva representa uma determinada posição que os jogadores deverão adquirir quando se encontram em acções defensivas. Caracteriza-se pela colocação mais adiantada de um pé em relação ao outro, sem o calcanhar estar em contacto com o chão ou em pontas dos pés, com as pernas ligeiramente flectidas, o tronco ligeiramente inclinado para a frente e com os braços semi-flectidos à altura do peito, com as mãos abertas. É uma posição que nos deverá permitir reagir rapidamente.

A marcação representa a responsabilidade directa por um adversário específico ou pelo adversário que apareça na zona específica de um defensor. A marcação assume diferentes formas em função do maior ou menor grau de perigo que o atacante representa (marcação de vigilância, de aproximação, ou de intercepção). A marcação pode variar igualmente em função: de nos encontrarmos numa linha de passe entre dois atacantes ou entre uma linha de tiro; da distância do atacante, da orientação e do gesto realizado pelo atacante. Hoje em dia existem situações complexas do jogo onde um mesmo defensor tem que se responsabilizar pela vigilância de dois adversários (normalmente em situações de inferioridade numérica ou do lado contrário da bola).

O enquadramento significa a colocação do defesa entre o atacante directo e a baliza

Os deslocamentos defensivos poderão ser realizados em corrida ou em posição base. Para uma boa realização dos deslocamentos defensivos o centro de gravidade deverá ligeiramente mais baixo que a posição normal, através de uma ligeira flexão dos membros inferiores. O deslocamento poderá ser frontal, de recuo ou lateral. Para estes últimos os pés devem mexer-se rapidamente sem nunca perderem o contacto com chão. Alguns dos erros mais comuns estão relacionados com o cruzar os pés, saltar ou juntar os pés durante a realização dos deslocamentos em posição defensiva.

Para se interceptar um passe há que estar desde início orientado para a bola. Depois disso a capacidade de antecipação, baseada na experiência e na capacidade perceptiva torna-se decisiva para a acção final, assente numa capacidade de reacção dos membros inferiores, de velocidade de execução membros superiores. Esta acção deverá ser realizada de surpresa.

Para uma boa realização do bloco é importante que o defensor se encontre enquadrado com o atacante e consiga de forma rápida colocar os seus membros superiores entre a bola e a baliza não permitindo que esta se desloque nesse sentido. A realização dos blocos depende da altura a que vai a bola. Quando esta se encontra acima da cabeça do defensor, o bloco deverá ser feito com as duas mãos. Quando a bola parte abaixo da linha dos ombros, o bloco realiza-se com uma mão.

Para o desarme é extremamente importante a velocidade de execução dos braços, associada ao momento ideal quando a bola não se encontra em contacto com o atacante. Esta acção de surpresa e de grande velocidade deverá ser executada quando a bola se encontra no seu percurso ascendente e não deverá ser incompatível ou interferir com outras acções simultâneas como o correr, a marcação ou o enquadramento.

As ajudas são consideradas acções típicas das defesas. Podem ser interpretadas como acções de ajuda perante um erro ou de antecipação ou reforço defensivo.

As trocas de adversário realizam-se perante acções de cruzamento, fixação do par seguido do impar com pivot no meio de ambos ou em entradas ao mesmo nível de jogadores para 2º pivot.

O contra bloqueio representa uma forma de troca de adversário, onde o defensor do bloqueador controla-o fisicamente para permitir que o defensor bloqueado consiga escapar ao bloqueio e realizar a troca de adversário.

No entanto voltamos a referir que o sucesso das acções defensivas não dependem única e exclusivamente da eficiência técnica, pois esta só irá contribuir para uma melhoria das mesmas.


O REFORÇO FÍSICO

Ao longo do tempo a preparação física dos nossos jogadores deverá ser melhorada na perspectiva de que estes se tornem mais fortes e ágeis para as solicitações defensivas.

Também aqui encontramos algumas relações que poderão ser importantes na altura de elaborar a sessão de treino. Desta forma, a força que tem uma relação directa com a aquisição e aplicação de uma técnica correcta, permite o desenvolvimento geral e específico de algumas estruturas musculares.

Assim sendo existe uma relação directa entre a realização de jogos de luta e o controlo físico (mais tarde poderemos observar que o exercício olímpico de arranque a 2 tempos permite um bom transfer para o controlo físico).

A capacidade de salto permite uma melhoria na acção que se encontra antes do gesto técnico do bloco. Antes de procedermos à realização de exercícios específicos para a melhoria da capacidade de salto, como os de alta pliometria (saltos em profundidade) há que ensinar a saltar à corda acções

O ½ agachamento (1/2 squat) permite uma melhoria sobre a capacidade de arranque importante para acções de deslocamento e principalmente de intercepção. A base deste exercício está nas flexões de pernas.


CONCLUINDO...

O importante consiste em ter as ideias claras quanto ao caminho que iremos prosseguir para a construção dos nossos jogadores. Existem vários caminhos, no entanto todos apresentam o trabalho sistemático, organizado, contínuo e a persistência por parte do treinador. Para além de um controlo que permita perceber em que momento estamos e para onde pretendemos ir.

Importa observar o jovem jogador como um todo e não ficar obcecados por pequenos detalhes que em nada significam na qualidade geral do jogador.
Como vimos ao longo do artigo, os sistemas defensivos não são assim tão importantes, pois desde que a base esteja trabalhada e consolidada, com maior ou menor dificuldade os jogadores conseguem interpretar qualquer sistema defensivo. Construir um defensor pensando num sistema defensivo é um erro.

Preparar para jogar é fácil, pois para defender com relativo sucesso, muitas vezes basta estimular os níveis de agressividade, no entanto a chave do sucesso encontra-se na articulação dos diferentes que factores que se encontram na base da formação de um jogador pronto para competir

Um bom defensor é o resultado desses factores que se articulam entre si num determinado momento onde a vontade em querer defender, a observação e a antecipação de acções não programadas por parte do atacante, assente numa boa execução técnica e numa boa preparação fisco – motora têm um resultado prático positivo: impedir que seja golo, recuperar a posse da bola ou parar um adversário.


BIBLIOGRAFIA


Alvarez, P. (2004) “Análises de las demandas respecto a la atención y a la retención para una ejecución técnica de alto nível en Balonmano.” Master en Alto Rendimiento Deportivo, Madrid

Alvarez, P. (2002) “ Bases para a compreensão do estudo da intercepção” 7º Fórum de Treinadores, Amadora

Alvarez, P. (1999) “ O treino da técnica” Curso de treinadores de Nível III, FAP, Almada e Gaia

Laguna, M. (1995) “Balonmano – curso básico” RFEBM, Madrid