quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O Andebol, que desporto? Antonio Cunha,Paulo Queiros

O Andebol, que desporto?

Num desporto bastante complexo, como é o caso do Andebol, são muitos os factores que influenciam na consecução de resultados positivos e, se pensarmos que esta é hoje uma das modalidades que maior interesse desperta, não nos admiremos que esta seja objecto de estudo nos diferentes aspectos que a envolvem (psicológicos, fisiológicos, biomêcanicos e estratégicos).
Este quadro de interesses conduziu a uma procura permanente da melhoria dos processos de treino, visando desenvolver a qualidade das equipas, no sentido de maximizar o seu rendimento e tornar a modalidade mais atractiva (Oliveira, 1996).
Segundo Brandão (1996), a Alta Competição tem um potencial poder para gerar desequilíbrios psicológicos que terão repercussões aos vários níveis do comportamento e, atletas e responsáveis desportivos não podem manifestar a sua sensibilidade porque a necessidade e a qualidade de uma preparação desportiva não são encaradas na sua verdadeira dimensão humanizante, mas sim como factor de rendimento que por vezes é prejudicial, tanto para o atleta como para o público em geral.
Questões das mais variadas sobre o desequilibro humano gerado pela prática desportiva, pode passar pelo nosso espirito, mas ninguém, por si só, pode encontrar a solução para o problema, devemos então embarcar numa aventura construtiva, para poder de forma activas participar num processo de equilíbrio humano, que deve ser gerado por toda a actividade desportiva (Brandão, 1996). a capacidade desportiva para obter o rendimento óptimo não depende somente dos níveis de desenvolvimento de factores como a condição física, com o desenvolvimento da coordenação, da força ou da resistência, mas sim que se relaciona a outros âmbitos como a capacidade de decisão, o reportório técnico e a aspectos estratégicos.
É a coordenação de todas as qualidades do andebolista que o conduz ao melhor rendimento. Esta interconexão manifesta-se em distintas etapas da preparação do mesmo, de forma variada, e tudo isto implica que um dos problemas mais importantes no treino seja a combinação adequada do método ou processo analítico de factores de treino, qualidades físicas ou elementos técnicos, que tendem a aperfeiçoar cada uma das partes.
O treino específico do andebolista tem como objectivo aperfeiçoar as qualidades motrizes especificas e, este aperfeiçoamento está directamente ligado com os esforços próprios do jogo.
A programação e esquema dos treinos deve actuar sobre: o desenvolvimento qualitativo dos grupos musculares mais solicitados; os elementos técnicos mais eficazes; a mobilidade e estabilidade das articulações em função do gesto ou gestos a executar; os ajustes espaço-temporais das acções ou combinações colectivas; assim, como deve actuar também: sobre a melhoria dos índices de velocidade, força e resistência, tal e qual são utilizados na competição oficial.
Normalmente definimos que existem três grandes factores que influenciam decididamente a desenvolvimento de um jogo de Andebol, o factor físico, o factor técnico e o factor táctico, acrescentando que muitas vezes, e em função da exigência dos encontros a disputar, o factor psicológico tem cada vez mais preponderância no treino. A junção de todos este factores, interligando-os uns aos outros maioritariamente e raramente de forma isolada, valoriza aspectos biológicos, biomecânicos, psicológicos, motores e morais.

O ANDEBOL – QUE EXIGÊNCIAS...

Sabemos nós que, hoje em dia, o processo de treino é indispensável em todas as actividades físicas de competição e, treina-se para conseguir atingir cada vez mais, o maior rendimento do atleta em determinada competição.
Os altos resultados desportivos no nosso tempo depende um adequado nível de desenvolvimento da preparação física, pois quanto mais forte for o organismo do atleta, melhor assimila a carga do treino e mais rápido se adapta a ela conservando a forma desportiva mais tempo. Sem dúvida que sem uma boa preparação física geral, não é possível desenvolver competências mantendo de forma efectiva e prolongada as exigências técnico-tácticas que se requerem para a vitória (Matos, 2000).
Segundo Maldonado (1992), o Andebol é um jogo de cooperação e oposição que se desenrola dentro de um contexto variável, composto por situações muito diferentes entre si, sem uma ordem preestabelecida no tempo e com uma componente de incertezas muito elevada.
O desenvolvimento do treino específico em Andebol, deve assentar sobre um estudo dos esforços específicos em competição, tanto do ponto de vista do volume, intensidade e complexidade dos mesmos, assim, há que apresentar as exigências físicas em valores, medidas, de distância a percorrer, total ou parcial, tempo e tipo de esforços, quantidade e formas de deslocamento, número de passes e remates habituais que acontecem durante a competição. Isto significa conhecer com exactidão tudo aquilo que acontece durante o jogo, pois, o treino hoje em dia é o espelho do jogo, é lá que se começa a preparação para o mesmo.
Num estudo realizado na ex-RDA, em diferentes encontros da Liga Nacional, conseguiu-se classificar qual o tipo de esforços que desenvolviam os atletas em situação de jogo, este estudo representa um “rampa de lançamento” para estabelecer um ponto de partida daquilo que se denomina máximo rendimento desportivo, já que todos nós pensamos e temos a convicção que é durante o jogo que os atletas dão o seu máximo, assim:
Tipo de deslocamentos Em metros
Deslocamentos em corrida com e sem bola 4151m
Deslocamentos em corrida sem bola 4114m
Em sprint 383m
A velocidade média 3127m
A velocidade lenta 604m

Deslocamentos em corrida com bola
Em sprint 11m
A velocidade média 26m

Tipos de acções Número
Arranques 44
Mudanças de ritmo 190
Mudanças de direcção 279
Saltos 16
Recepções 90
Drible 19
Passes – variadas distâncias 117
Remates 8,8

Estes valores representam, como disse, exemplos de parâmetros de rendimento para os quais deve tender o treino em Andebol.
Em outro estudo mais recente, realizado por Soares (2001) para avaliar a condição física dos atletas que representam a selecção nacional, o autor afirma que os jogadores em Portugal apresentam um déficit evidente na condição física, que existe uma apetência generalizada pelo treino técnico e táctico descurando a parte física, os jogadores portugueses apresentam uma percentagem de gordura superior ao desejável e, que a percentagem de massa magra dos jogadores sugere um déficit no trabalho de força.
Isto leva-nos a sugerir que nem só o treino técnico e táctico deve prevalecer, deve-se fazer uma correspondência, no planeamento, do Andebol com outras modalidades desportivas de forma a corrigir erros que se denotam na preparação dos atletas.



FORMAS DE PLANEAMENTO ACTUAIS

Mestre citado por Equisoan (2000) diz que planificar é prever com suficiente antecipação as acções, de forma que o seu desenvolvimento se efectue de forma sistemática e racional segundo as necessidades e possibilidades reais, com aproveitamento pleno dos recursos disponíveis no momento e previsíveis no futuro.
No Andebol, o período competitivo dura entre 8 a 9 meses. O sistema de competição (sistema de competição clássico todos contra todos, sistema de fases...) pode condicionar a planificação do treino, podendo assim as equipas estruturar os seus conteúdos em função dos seus interesses concretos, contudo, a competição não é o único objectivo fundamental do treino, mas sim a forma de controle mais completa e objectiva, já que nela se encontram inerentes todas as variáveis do rendimento (Ríos, L. C.; Ríos I. C.; Puche, P. P., 2000)
Segundo Ríos, L. C.; Ríos I. C.; Puche, P. P. (2000), o objectivo não é outro senão que a elaboração de modelos de treino que permitam aumentar o rendimento com meios cada vez mais económicos já que o aumento das capacidades, dentro de um jogo de Andebol de alto nível, obriga os treinadores a utilizar métodos de treino em busca de uma preparação psicofísica multilateral (Czerwinski, 1990). A dificuldade está em reunir todos os factores influentes na melhoria do jogo, dentro de um processo lógico e ordenado de planeamento cujos fins são entre outros:
•Optimizar o número de treinos
•Dosear as cargas
•Possibilitar a individualização
•Avaliar a progressão
•Dirigir adequadamente as cargas
•Etc…
Na actualidade, segundo Ríos, l. C.; Ríos, I. C.; Puche, P. P. (2000), nada coloca em dúvida a importância que tem o facto de planificar o trabalho dentro do campo do treino desportivo. São diversas e variadas as formas de levar a cabo esta tarefa.
O objectivo de toda a planificação é chegar aos momentos mais importantes da época desportiva no melhor estado de forma. Para chegar ao período de competição com possibilidades de aplicar o maior nível de dificuldade e intensidade, no modelo integrado dentro do jogo complexo, é crucial realizar uma planificação progressiva em todo o período de preparação, no que se refere à capacidade de integrar meios físicos com meios tácticos dentro do jogo (Ríos, L. C.; Ríos I. C.; Puche, P. P., 2000).
Segundo Ríos, L. C.; Ríos I. C.; Puche, P. P. (2000), com este modelo de planificação no fazemos mais do que aproveitar os momentos susceptíveis de melhoria da condição física e cognitiva. Isto é, em períodos de desgaste utilizamos os procedimentos mais simples ao nível táctico. Para introduzir os mais complexos naqueles períodos de supercompensação e coordenação dos diferente sistemas.
Segundo Chirosa, L.; Chirosa, I., (1999), a fórmula de competição nos desportos colectivos de cooperação/ oposição, impõe um modelo particular de planificação, dependendo do desporto em concreto e da etapa e nível considerado, tornando-se, por vezes, imprescindível a criação de programas de treino individualizado que se adaptem às necessidades do jogo e do jogador.
Deste modo, e segundo Equisoan (2000), no planeamento delineado para o Portland António, no Período de Transição, período de união entre o fim da temporada e o inicio da outra, aconselha-se que não desapareça por completo a actividade física, os atletas devem realizar qualquer tipo de actividade ou desporto, já que os atletas são desportistas sem férias, nunca nos esqueçamos disso.
Assim, como nos diz Equisoan (2000), para o trabalho de planificação da equipa Portland António temos:
Atletismo – Corrida Contínua;
Bicicleta 40-75’ entre 110/ 130 p/ m;
Musculação: 2 a 3 sessões semanais;
Natação - como complemento;
Percursos Pedestres – Montanha;
Vela;
Patins; etc...

Este tipo de sessão de treino varia consoante o objectivo, distinguindo-se sessões integradas destinadas à quantidade e outras destinadas à qualidade, mas no entanto muito distintas do Andebol.
Porque não utilizá-las durante toda a época desportiva e não só em períodos de inicio de temporada, provavelmente será necessário modificar os hábitos de alguns treinadores e incutir-lhes novas formas de treino através de outras modalidades.
Num estudo levado a cabo em Cuba, por Sánchez, E. & Rojas, J. (2001) sobre o treino personalizado em desportos colectivos, eles consideraram que esta iniciativa teve uma grande importância já que possibilitou elevar o nível cientifico da planificação, motivou o atleta, desenvolveu a vontade e a independência, desenvolveu as suas capacidades sem prejudicar os outros, erradicou dificuldades temporais e procurou obter níveis de rendimento superiores. Em conversa com os treinadores desportivos, muitos acharam imperioso o treino como factor de desenvolvimento individual e colectivo, contudo, tem o inconveniente da má preparação e da falta de informação aos mesmos sobre esta problemática.



Programação e Periodização do Treino no Andebol

A evolução dos desportivos colectivos parece depender de não apenas da existência de jogadores com levado potencial, mas também da intervenção do Treinador que possuem elevadas capacidades para liderar, planear e programar o processo de treino desportivo cada vez mais exigente e selectivo.
Ao treinador que vai orientar, conduzir e controlar o processo de treino de uma equipa de Andebol, colocam-se vários problemas que ele terá de equacionar, sob pena de vir a ser controlado e conduzido por demasiado factores alheios à sua vontade e disponibilidade.
Ao pretender que os Atletas/Equipa atinjam o mais elevado Rendimento Desportivo, o treinador e seus colaboradores vêm-se confrontados com a necessidade de criar condições favoráveis(em quantidade e qualidade) para que tal seja possível.
O termo Planificação tem sido utilizado para referir a descrição antecipada de conteúdos, da progressão, das variações, do lugar e das demais condições do treino(Segui, 1981), no sentido de assegurar o mais elevado Rendimento Desportivo na competição.
Verchosanskij (1987) propõe o vocábulo Programação para designar a determinação da estratégia, do conteúdo e da forma de estruturação(construção) do processo de treino. Segundo este autor, programar o treino implica não apenas utilizar os conhecimentos dos processos de adaptação e do potencial das situações de treino, mas também recorrer à experiência relativa.
As reacções individuais dos Atletas, à medida que os efeitos cumulativos do treino operam, para determinar correctamente o nível de actividade competitiva a visar e o momento em que esse nível pode ser atingindo.
A programação, sendo então a adequação do planeamento às condições reais, exige o estabelecimento de modelos relativos aos diversos aspectos do processo. Para ser eficaz deve satisfazer dos condições: o reconhecimento da adaptação enquanto processo biológico indutor do treino ; e o conhecimento do potencial de treino dos exercícios e dos métodos complexos (Satori& Tschiene, 1988)



A Periodização, aspecto particular da programação

Para que uma programação seja eficaz parece importante estruturar a época em períodos, ou ciclos de treino, cada um do quais com características e objectivos específicos. A divisão em períodos ou etapas ajuda a organizar o processo de treino e a fixar de modo mais efectivo o conteúdo de preparação, segundo os objectivos e o tempo a gerir. A esta divisão em fases com estruturas diferenciadas, relacionadas não apenas com a duração e demais características do calendário competitivo, mas sobretudo com a natureza da adaptação do organismo do atleta aos estímulos a que é sujeito e os princípios do treino desportivo, dá-se o nome de Periodização.
A periodização é um aspecto particular da programação, que diz respeito sobretudo aos factores relacionadas com a organização cronológica da dinâmica das cargas de treino e com a consequente dinâmica da adaptação do organismo a essas cargas, de acordo com os períodos da época que vivemos (Segui, 1981).
A época desportiva pode assim ser faseada em ciclos, em função das diferenciadas características estruturais que apresenta. Nadori & Granek (1989) referem que as Unidades de Treino, os ciclos Micro, Meso e os Macrociclos reflectem, respectivamente, as tendências pontuais, parciais e gerais da dinâmica das cargas.
A duração e o conteúdo dos períodos e etapas de preparação em cada Macrociclo são condicionados por diversos factores. Uns, estão relacionados com o caracter especifico de cada modalidade desportiva: com a estrutura da actividade competitiva e com o sistema de preparação a longo prazo e com as leis que regulam a evolução das diferentes capacidades: outros ainda, dizem respeito às particularidades morfo-funcionais dos atletas, ao sei ritmo de adaptação, à sua carga de treino anterior e às suas vivências ao nível das competições desportivas.
A periodização do treino tem assentado numa base predominantemente referenciada aos aspectos da adaptação morfológica, fisiológica ou bioquímica do organismo.
A edificação da Forma Desportiva (FD) terá de assentar, por um lado numa base muito mais lata, considerando-se o atleta com um todo, e por outro lado num conhecimento cada vez especifico da modalidade desportiva a que respeita, sob pena de incorrer em graves erros metodológicos. Partindo do princípio que é importante os jogadores de Andebol manterem um elevado nível de execução técnica e de resolução táctica desde o primeiro jogo ao ultimo jogo no período de competição ou competições, parece-nos pertinente que se passe a considerar e enquadrar dois aspectos que, normalmente não constam da periodização, e que, em nosso entender, se afiguram fundamentais; a capacidade de jogo e a construção dos exercícios/situações de treino em função do modelo e da concepção de jogo.



Periodização ou periodizações?

Pode-se considerar-se que o processo de periodização do treino desportivo tem a sua base cientifica nos anos 60-70 (Platonov, 1991), embora já na segunda metade da década de cinquenta, o soviético Lev Pavlovic Matveiev tenham desenvolvido este conceito, tomando como base as fases do síndroma geral da adaptação de Hans Selye.
O modelo de Matveiev parece aquele que mais influenciou a periodização do treino nos Jogos Desportivos Colectivos. Efectivamente, várias têm sido as dificuldades encontradas pelos treinadores neste grupo de desportos, face ao modelo tradicional de periodização. A sua inadequação devido ao conflito entre curta duração do período de preparação e a grande duração do período competitivo, durante o qual exige bons níveis de prestação tem de alguma maneira entrado em contradição com a pratica desportiva mais evoluída.



A forma desportiva

Como é fácil perceber ao longo desta exposição, não é possível tratar com coerência o problema da periodização sem explicitar a noção de forma desportiva.
Estar em forma significa estar disponível para responder cabalmente ás exigências duma determinada actividade, num determinado período de tempo. Assim, se atendermos às particularidades de cada modalidade desportiva e de cada atleta, podemos dizer que não há uma, mas várias formas desportivas.
A forma desportiva no andebol está então condicionada por aspectos particulares. O seu tempo de vida, bem como o seu nível qualitativo, dependem da conjugação e da articulação de diferentes variáveis, pelo que se torna imprescindível considerar a noção de sinergia. Nesta noção está implícito o facto de não haver nenhum componente de treino que, tomada isoladamente, possa ser considerada mais importante do que as outras (Gambeta, 1990).
Hoje sabe-se que, quanto menor for o numero de competições ao longo de uma época, mais elevado pode ser o nível de forma em cada uma delas, mas menos tempo pode durar esse estado. Se as competições forem concentradas e em grande número, como no caso do Andebol, será de esperar um nível de forma relativamente baixo, mas com menos oscilações, logo uma maior estabilidade.
E no Andebol ? Qual o nível de forma a que poderá aspirar uma equipa, de acordo com o longo período de competições?
O estado forma óptima é, pelas suas características mais elevado e menos durável do que qualquer dos outros desportos. Ora dado que o período de competições vai até 9 a 10 meses torna-se impensável manter uma equipa durante todo esse tempo no nível de forma óptima.
Dado a longa duração de calendário competitivo, no Andebol dividido em duas períodos de competição em que no primeiro se apura os finalista e no segundo período se disputa o play-off para apuramento do Campeão , parece mais correcto evitar grandes oscilações, preconizando a adopção dos chamados patamares de rentabilidade em detrimento dos tão apregoados picos de forma, ajustando-se estes sobretudo às modalidades com um curto período competitivo.
Á exigência de, nos campeonatos nacionais de andebol e outras competições , implica cuidados à prior e à posteriori. Por um lado há que gerir as cargas no sentido dos jogadores estarem disponíveis para render satisfatoriamente no próximo jogo e assim sucessivamente, por outro lado importa considerar as repercussões da carga que o próprio jogo constitui, nos efeitos cumulativos mais globais, isto é, da integração das sucessivas microadaptação semanais na macroadaptação ao longo da época.
A tendência para fazer coincidir a dinâmica das grandes curvas dos períodos, com as pequenas curvas dos Microciclos semanais é uma tarefa que se tem revelado inglória e ficcionista.



Andebol - que periodização?

Durante muitos anos, as diferentes tendências reveladas na elaboração de periodização de treino desportivo ocuparam um dos lugares centrais na teoria e na metodologia do treino desportivo (Platonov, 1991).Há vários trabalhos publicados sobre a periodização nos desportos individuais, mas nos desportos colectivos são muito escassos são difusos, dada as dificuldades duma tal abordagem (Coli, 1987).
Devido ao aumento significativo das competições a exigência máxima quer nos desportos individuais e colectivos, alguns especialistas começaram mesmo a rejeitar a existência dos períodos de preparação, de competição e de transição. Outros chegam a negar a existência da periodização, considerando a preparação dos desportistas uma cadeia contínua de preparação e participação em competições, estando esta ultima tendência muito divulgada na halterofilia e em alguns desportos de equipa (Platonov, 1991).
Parece-nos que o entendimento da preparação preconizada por Bondarchuk (1988), sugere significativas metamorfoses na concepção tradicional de periodização. Corroboramos a opinião de Seirul-lo Vargas (1987), quando este refere que relativamente às modalidades com longo período competitivo, é possível construir uma síntese conjugada dos aspectos propostos por Verchosanskij (1987) e Bondarchuk (1988). Do primeiro, interessa-nos o conceito de trabalho concentrado e por blocos, o que permite manter e elevar o nível de força explosiva, cada vez mais importante para os andebolistas, durante toda a temporada; do segundo, é útil a noção de sinergia, isto é de interligação entre os componentes do Rendimento (condicionais, táctico-técnicas, psíquicas) e ainda a importante recomendação para reduzir substancialmente o trabalho geral durante o período preparatório.
É o trabalho concentrado de carga especifica que proporciona ao longo de todo o período de competição a manutenção do nível de alta forma e a adaptação a esta inércia de alta forma deve ser alcançado e mantido independentemente da importância das competições, embora tenha de se atender à sua duração. O estado de forma óptima é mais efémero, atinge-se individualmente quando, a partir da alta foram, se faz coincidir no atleta uma sinergia de cargas de conteúdo específico que o provoquem (Seirul-lo Vargas, 1987).
Partindo do princípio que é importante que os jogadores de Andebol mantenham um elevado nível de execução técnica e de resolução táctica desde o primeiro jogo ao último jogo do período de competições, parece pertinente considerar e enquadrar dois aspectos que habitualmente não constam da periodização e que se afiguram fundamentais: a capacidade de jogo dos jogadores e a construção dos exercícios/situações de treino em função do modelo e da concepção de jogo.



OUTRAS FORMAS DE TREINO

Nada é permanente senão a mudança"
Heraclito (576-480 a. C.)

Nunca como hoje esta frase com mais de 2 mil anos foi tão actual. De facto, a mudança é a única constante da actualidade, produtos, preferências, tendências, ideias, até mesmo o fenómeno desportivo mudam com uma velocidade desconcertante.
Fala-se de globalização, a Internet cresce a um ritmo exponencial, os mercados pulam de novos produtos, o que ontem era verdade, hoje pode estar em dúvida e amanhã estar obsoleto. E mais do que a mudança em si, o que mais surpreende é a aceleração contínua dessa mesma mudança. Por tudo isto, é necessário criar meios de formação aptos a lidar com a mudança e capazes de provocar a aprendizagem efectiva.
Neste contexto, o treino em Andebol expande-se a outros campos (Atletismo, Musculação...) como meio de formação, campos esses ainda bem pequenos e com uma expressão ainda muito pouco clara.
Artur Jorge diz que “uma das grandes dúvidas de um treinador de hoje é saber como pode ir mais além na motivação dos seus jogadores... como é possível tornar o grupo impermeável a pressões que chegam de fora, como ajudar o jogador a ter mais confiança em si próprio, a ter menos medo nos momentos decisivos...como conseguir alta competência a elevadíssimos níveis de pressão psicológica...” aqui, a formação vivencial (experiential learning) pode ter um valor acrescentado muito especial. Consistindo na utilização estratégica de experiências estimulantes, a formação vivencial caracteriza-se tanto pelo tipo de técnicas pedagógicas utilizadas, como pelo contexto onde as mesmas se realizam. O seu objectivo fundamental é ajudar os indivíduos, as equipas e as organizações a atingirem níveis de desempenho superiores e assim alcançar resultados de sucesso.
As acções desenvolvidas tais como actividades no campo, na montanha ou nos rios, criam nos praticantes uma motivação acrescida para aprender, já que as aquisições são realizadas através do recurso a jogos pedagógicos, interligados com a componente teórica ministrada. Os participantes são assim solicitados para a utilização efectiva e prática de competências como, por exemplo, a comunicação, a negociação, a gestão de recursos escassos, o planeamento ou a resolução de problemas, não se limitando a conversar (ou ouvir conversar...) teoricamente acerca das mesmas. A formação vivencial é muitas vezes apelidada de formação outdoor (outdoor training), o que não aparenta ser a designação mais correcta já que a formação vivencial tanto pode ser em sala (indoor) como ao ar livre (outdoor).
É aqui que entram os desportos aventura, sendo encarados nesta perspectiva como uma ferramenta de formação. Não são utilizados apenas por puro prazer, mas com um objectivo pedagógico muito bem definido. Por isso, a formação outdoor distingue-se de meras provas de desporto aventura ou das actividades de incentivo, sendo fundamental o acompanhamento permanente dos participantes (no terreno e fora dele) por parte de técnicos especializados na análise de comportamentos (os facilitadores), para se poder explorar todo o potencial que estas actividades apresentam. A formação vivencial apresenta um carácter extremamente flexível, o que lhe permite adaptar-se às mais diversas solicitações, como sejam:
Resolução de problemas e tomada de decisões
Criatividade
Liderança
Comunicação
Negociação
Gerir o stress
Lidar com a mudança
Utilização eficiente do tempo
Resolver conflitos

Embora não pretenda ser o remédio que cura todos os males organizacionais, a formação vivencial apresenta algumas características que podem ser consideradas como pontos fortes muito interessantes:

Realidade
Os problemas são reais, as situações acontecem de facto, as consequências são "a doer". É o mundo real, em carne e osso. Assim, os participantes são eles próprios, não podendo esconder-se atrás da desculpa: "Eu procedi desta forma porque tudo não passava de uma simulação. Na vida real, nunca me comportaria assim!"

Memorabilidade
A excitação das actividades vivenciais não se esquece facilmente. São emoções fortes que ao serem recordadas trazem consigo a recordação da aprendizagem e a sua consequente aplicação.

Igualdade
Para a maioria dos participantes, a formação vivencial passa-se num contexto pouco habitual. Assim, as competências relevantes no local de trabalho não têm geralmente qualquer valor nas actividades vivenciais, eliminando-se assim barreiras entre as pessoas.

Camaradagem
É normal os participantes em acções de formação vivencial criarem relações de camaradagem muito fortes, que podem ser fundamentais nas situações normais de trabalho. Daí estes programas serem tão apreciados para o teambuilding. E, mesmo quando as pessoas não ficam a adorar-se umas às outras, pelo menos, passam a compreender-se melhor, aceitando-se mutuamente.

Esta realidade, afastada ainda dos nossos domínios pode ser um ponto de partida, para em algumas fases do nosso planeamento podermos concretizar. Se atentarmos, os aspectos anteriormente relatados são tão importantes como o treino táctico, senão, por vezes e a certo nível mais importante.
No ANDEBOL, segundo Giménez (1998), podemos manipular algumas variáveis para a criação de jogos modificando:

Em função do espaço:
-Aumentar ou reduzir o terreno de jogo
-Aumentar ou reduzir o tamanho, a forma e o número de balizas
-Incorporar outras áreas restritivas (áreas de onde não se pode rematar, áreas que não se podem pisar...)
-Delimitar zonas de remate obrigatórias (por exemplo, entre as linhas de 6 e 9 metros)
-Obrigar os jogadores a mudar de espaço durante o jogo

Em função do tempo:
-Limitar o tempo de posse da bola
-Limitar o tempo para a realização de determinadas acções (por exemplo, o remate)
-Limitar o tempo de permanência em determinadas áreas ou zonas (quer seja ao jogador como à bola)
-Acelerar ou diminuir o ritmo de jogo
-Assinalar jogo passivo se não se joga a determinado ritmo
-Modificar os tempos de jogo
-Aumentar ou reduzir o número de períodos de jogo ou descanso

Em função do regulamento:
-Variar o sistema de pontuação (delimitar a baliza em duas ou mais partes e em cada uma o golo vale 1 ou 2 ou 3)
-Jogar com uma parte das regras para simplificar o jogo
-Introdução de algumas normas para centrarmos o jogo em determinados aspectos tácticos (por exemplo, não permitir a progressão do jogador com a bola nas mãos, proibir passes para trás, proibir passes recíprocos...)
-Modificar a forma, o tamanho e a composição da bola

Em função da técnica:
-Determinar o número de contactos e a forma de contacto com a bola
-Planear situações que condicionem o uso de determinadas técnicas: passes em pronação, passe por trás das costas...

Em função da táctica
-Variar o número de jogadores (igualdade ou desigualdade numérica)
-Estabelecer um sistema de jogo no ataque e na defesa
-Estabelecer mudanças de sistemas de jogo mediante determinadas circunstâncias
Aliadas a todas estas modificações que se podem realizar para tornar o Andebol diferente podemos ainda realizar jogos pré desportivos de iniciação à modalidade.
Analisando outras modalidades desportivas colectivas, destacamos o Basquetebol, pela sua semelhança de alguns dos seus elementos técnicos e tácticos ao Andebol, para além das componentes físicas, o Voleibol, o Rugby, pelos numerosos estímulos motores que estão dependentes das exigências deste jogo, entre muitos outros que desenvolvem desde um principio aspectos tácticos e técnicos do jogo que, quando bem estruturados apresentam uma característica lúdica, uma motivação e imaginação essenciais para “divertir” o atleta de Andebol.


Considerações finais

Dadas as dificuldades encontradas pelos treinadores, face ao modelo tradicional de periodização de Matveiev, no andebol impõe-se que a edificação da forma desportiva assente, por um lado numa base muito mais lata, considerando-se o atleta como um todo, e por outro num conhecimento cada vez mais específico da modalidade desportiva a que respeita, sob pena de se incorrer em graves erros metodológicos.

Face a longa duração do calendário competitivo e às suas características, parece ser mais vantajoso evitar as grandes oscilações, preconizando a adopção dos chamados patamares de rentabilidade em detrimento dos picos de forma, ajustando-se estes sobretudo às modalidades com um curto período competitivo tal implica a necessidade de uma organização próprio a do processo de treino anual, baseada numa distribuição regular das cargas de treino e competição, sem a presença marcada de etapas de grande intensidade e das etapas de baixa intensidade.

Frequentemente, quando se perspectiva a periodização do treino em Andebol, os factores dominantes da capacidade do jogo são pouco considerados, reduzindo-se todo o processo às repercussões das cargas no plano físico-atlético, o que induz uma intervenção pouco ajustada às exigências da modalidade.

Nesta perspectiva, impõe-se uma periodização adequada às exigências dos Jogos, dedicando-se uma atenção mais adequada à análise dos aspectos estruturais e funcionais da competição, para que, em função deles, seja possível sistematizar os objectivos e a natureza dos efeitos dos exercícios a propor aos atletas no processo de treino.


Bibliografia
Bastos, F. B.; Santana, L. F. (1999). CONTEXTUALIZAÇÃO DA HIDROGINÁSTICA NO PLANO GERAL DAS ATIVIDADES FÍSICAS. Estudo Monográfico.
Bondarchuk, A. (1988) - Constructing a training system (part II).Track Technique.
Borges, S. J. L. (1996). O perfil do deslocamento do Andebolista. Um estudo com jogadores seniores masculinos. XI Clinic Internacional de Andebol. Associação de Andebol do Porto.
Brandão, A. (1996). O desporto e desequilíbrio humano. XI Clinic Internacional de Andebol. Abril de 1996. Associação de Andebol do Porto. Porto.