quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Jogos Pedagógicos,e a Lógica do Jogo Defensivo-Lucas Leonardo,BR

Jogos Pedagógicos – Jogos de Golzinhos, Jogos sem Goleiro e a Lógica do Jogo Defensivo

25 Novembro 2009 por Lucas Leonardo

Como começar um trabalho com handebol? Essa pergunta sempre vem à nossa mente quando não conhecemos bem a modalidade. Para essa dúvida, quase sempre temos uma válvula de escape: fazemos do handebol profissional o modelo que copiamos na iniciação.

É como se tirassemos uma foto de um jogo de alto rendimento e com base nela, organizassemos todo processo de ensino do handebol. Veja abaixo uma foto de um jogo profissional. O que vocês identificam num jogo de handebol?
Ataque contra Defesa - como você vê o handebol?

Fonte - http://www.torrevieja.com - Ataque contra Defesa: Como você vê o handebol?

Identifcamos, geralmente:

1. Um jogo de 6×6 no qual os goleiros devem ficar em suas áreas e os jogadores de linha se confrontando na quadra em si, totalizando 7 jogadores de cada lado;
2. A equipe de se defende busca montar uma barreira em volta da área protegendo o seu alvo para não sofrer gols;
3. A equipe que ataca fica à frente da barreira, buscando uma forma de arremessar a bola ao gol.

Mediante essa imagem fotografada em nossa análise da modalidade é que começamos organizar nossas aulas de iniciação ao handebol.

Vejam que interessante, com base nisso, ensinamos a nossos alunos que logo depois de atacar eles devem montar uma barreira próxima à linha da área para assim proteger o gol, enquanto que quando estão atacando eles devem vencer à barreira adversária.

Será essa a verdadeira dinâmica do jogo de handebol?

Pensemos sua lógica: para vencer o que uma equipe deve fazer?

1. A resposta parece fácil: “Não sofrer gols” – realmente não sofrer gols é bom, mas isso não garante vitória, pois posso não sofrer gols e também não marcar gols, logo, não venço, apenas empato.
2. Vamos para uma segunda opção: “Fazer gols” – realmente fazer gols é um bom caminho, mas mesmo que eu faça 10 gols num jogo, posso sofrer 11 gols, logo, apenas fazer gols não me garante a chance de vitória.

Ao pensarmos a lógica do jogo, não basta jogarmos apenas para fazer gols, nem mesmo ater nossa ações para não sofrer gols, pois a única forma de conquistarmos uma vitória é “fazer mais gols do que sofrer”.

Com base nessa afirmação, temos finalmente o caminho para a vitória desvelado.

Veja que fazer gols é o principal objetivo, porém, sempre com a relação de um menor número de gols sofridos. Logo, devemos pensar uma forma de coordenar nossas ações para que possamos colocar a lógica do jogo em prática.

Ofensivamente, cumprir a lógica segue um caminho simples (mas de dificil execução): ao ter a bola não posso disperdiçar nenhuma oportunidade de marcar.

Mas, é defensivamente que está o grande segredo: Ao defender o que devo priorizar? Proteger o alvo? Impedir a progressão adversária? Recuperar a posse de bola?

Retornemos à Lógica do Jogo de handebol: devemos fazer mais gols do que sofrer.

E qual é a forma que uma equipe deve se comportar para conseguir essa vantagem quando está se defendendo?

Proteger o alvo garante para a equipe fazer mais gols que o adversário? Impedir a progressão adversária garante essa vantagem? Não, pois em nenhuma das hipóteses traçadas teremos algo essencial para ser fazer mais gols do que sofrer: ter a posse de bola.

Logo, a única forma de conseguir essa vantagem é defender para fazer gols.

Essa afirmação parece estranha né? Como assim, defender para fazer gols? Não defendo para evitar golos? A resposta é não.

Quando trazemos uma visão parcial do handebol com base naquela foto que tiramos do jogo profissional para nossas aula, priorizamos a proteção do gol como forma de funcionamento do jogo, logo, passamos a defender para não sofrer gols. Assim montamos uma barreira e ficamos esperando que o adversário erre (ou um passe, ou um arremesso, comentendo uma infração como a andada, bola no pé e etc..).

Essa postura, no entanto, não garante à equipe que se defende algo importantíssimo para vencer: conquistar a posse de bola, pois quem apenas protege o alvo está dependendo da ineficiência adversária para vencer. Uma equipe assim só vencerá se o adversário errar.

Ao tentar proteger o gol, quase sempre não somos suficientemente eficientes e acabamos por sofer alguns gols e só recuperamos a posse de bola depois dos gols sofridos, ou como já dito, dependendo da ineficiência adversária, algo que em um jogo mais difícil não podemos nos dar ao luxo de esperar que aconteça.

Para poder cumprir a lógica do jogo de handebol uma equipe deve priorizar a tentativa de recuperar a posse de bola, sempre, pois somente com a bola é que se pode fazer gols.

Logo, quando afirmo que a função defesa é fazer gols, me pauto nessa visão: a defesa deve sempre buscar recuperar a posse da bola, pois assim une-se em uma ação a possibilidade de manter a proporção de mais gols a favor do que gols contra, uma vez que recuperando a posse de bola a equipe deixa de sofrer um gol e tem a oportunidade de marcar, adiquirindo a vantagem de 1 gol à favor.

Já haviam pensado nisso? Que a função lógica da defesa é FAZER GOLS?

Logo, se a defesa deve buscar faze gols, ela não pode ser passiva, sobre a forma de uma barreira esperiotipada do handebol profissional.

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Digo esteriotipada pois no handebol profissional a “barreira” não é simplesmente uma barreira. Ao analisarmos um jogo de rendimento veremos constantes ações defensivas verticalizadas, cujo objetivo é a tentativa da recuperação da bola. Mesmo em defesas que se deslocam prioritariamente de forma horizontal, verificamos que ela retarda tanto a ação ofensiva que impossibilita o ataque de finalizar uma bola em boa condição, recuperando a posse da bola com base numa finalização mal feita pelo adversário. A defesa sempre procura recuperar a posse de bola.

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A ação da defesa, sobretudo na iniciação com crianças, momento no qual as ações coletivas ainda não são maduras a ponto de serem utilizadas, deve se basear na ação tática individual pautada na busca da recuperação da posse de bola, orientando para as fases iniciais de aprendizado a utilização de defesas individuais pressionantes o que favorecerá defensivamente à recuperação constante da posse de bola e a maturidade ofensiva do desmarque, das movimentações sem bola e busca de espaços vazios – ações táticas elementares para se jogar bem ofensivamente o handebol.

Assimilada a ideia da defesa individual, as defesas devem continar pressionantes, mas realizadas de maneira que otimize os deslocamentos dos defensores. Surge assim a necessidade de ser ensinada as defesas zonais. Iniciar por defesas abertas como o 3:3 e o 3:2:1 é o caminho que garante o aprendizado da defesa em zona sempre de maneira ativa e pressionante, que busque a recuperação da posse de bola, fazendo com que, quando houver o aprendizado das defesas mais fechadas, como a 6:0 e a 5:1, o aluno entenda que essas estruturas não comportam-se como barreiras, mas orientam-se como defesas ativas que têm por função principal, sim, a proteção do alvo, mas que devem, sempre que possível, provocar erros adversários ou mesmo antecipar uma linha de passe tentando recuperar a posse da bola, cumprindo assim a lógica de jogo defensiva.

Uma forma interessante de ensinar alunos na iniciação a ter na função defensiva a recuperação da posse da bola é criar jogos sem goleiro, ou seja, jogos cuja meta não seja protegida, facilitando a ação ofensiva em marcar um ponto e, por conseguinte, criando na defesa a necessidade de afastar ao máximo os adversários de seu alvo, buscando conjuntamente recuperar a posse da bola o mais próximo do alvo adversário, facilitando a conquista do ponto.

Gosto muito de matrizes de jogo como os Jogos de Golzinhos e Jogos em Ambiente Formal sem Goleiro.

Jogos de Golzinhos

Jogos de golzinhos tem um apelo bem interessante: o gol está desprotegido, logo, se a defesa deixar o ataque com a bola dificilmente evitará o gol. Dessa forma, buscar recuperar a posse da bola é a principal função da equipe que se defende num jogo como esse.

Uma matriz simples para jogos de golzinhos é dividir a quadra em três ou quatro mini-quadras, mais compridas do que largas, e ali jogar jogos de 3×3 (a existência de uma área é importante em jogos como esses, pois evita-se que os jogadores “guardem caixão” protegendo o gol ficando dentro dele).

Em jogos como esses é possível trabalhar, desde conceitos de defesa individual, como conceitos de defesas em zona abertas e pressionantes, pois somente com ações como essas é que se consegue inibir a finalização ao alvo desprotegido.

Jogos em ambiente formal sem Goleiro

Trata-se de jogos formais de 6×6 em quadra toda sem a presença dos goleiros.

Imagine como a equipe que se defende deve agir? Será uma defesa passiva ou bastante ativa? O jogador com bola poderá ficar sem sofrer contatos, sem ser pressionado? Claro que não!

Esse tipo de jogo ganha mais importância em equipes mais experientes e que já dominam por completo o conceito de defesa individual e que estejam mais maduras em relação às estratégias zonais em defesas abertas.

Em um jogo como esse a defesa aprenderá a ser bastante ofensiva e com certeza jogará sob a lógica de que a melhor ação defensiva é ter imediatamente a bola, e por consequência, criando possibilidade de fazer gols.

Espero ter possibilitado a todos a chance de entender que a barreirinha, muito comum em equipes jovens é, na verdade, uma visão míope do jogo de handebol profissional.

Se tiverem oportunidade de assitir a jogos de equipes mais novas (sobretudo, escolares) e equipes mais velhas, verifiquem como as “barreiras” se comportam. Observem como essas barreiras obrigam as equipes que atacam a se comportar. Analisem se a mesma lógica de jogo está sendo apredentada nesses dois tipos de handebols.

Acredito que a conclusão será a seguinte:

* Em equipes mais novas joga-se defensivamente para não sofrer gols.
* Em equipes mais velhas joga-se defensivamente para se recuperar a posse de bola (seja criando dificuldades para finalizar – com arremessos desequilibrados ou pressionados pelo jogo passívo -, seja antecipando uma linha de passe ou mesmo provocando erros adversários) fazendo da defesa uma forma de se fazer mais gols do que sofrer.